sábado, 30 de junho de 2012


MOLÉSTIA DA ALMA



Entrevistado: Tenho distúrbios de comportamento, mental e emocional. Há muitos meses, venho tomando ansiolíticos e antidepressivos, mas nada melhora meu estado íntimo. Vivo sentimentos contraditórios: excesso de alegria ou de tristeza, agitação ou apatia, ideias fixas ou dispersivas. Disseram-me que estou obsediado. Sofro constantes crises de medo e de desconfiança sem motivo algum. Considero-me um ser humano bom; nunca fiz mal a ninguém. Por que sofro esse assédio impiedoso? Que fazer para livrar-me da agressão dessas entidades infelizes?

Sugestões para o entrevistador:

      Sei que a fogueira da aflição queima junto a seu peito e você sente estranha aura ao redor de sua mente.

      Enquanto você não assumir a responsabilidade por tudo o que lhe está acontecendo, não encontrará a verdadeira cura para a sua alma. Não se deve criar um mundo de explicações falsas, culpando os espíritos pela infelicidade e desarmonia vivenciadas. Isso é distorcer o real sentido dos acontecimentos. Você não pode culpar os outros por suas emoções e sensações, sob pena de nada aprender sobre si mesmo. Aceitar a total responsabilidade por sua vida é a forma mais fácil de resolver dificuldades íntimas, mas certamente é uma tarefa que não se realiza da noite para o dia. A autorresponsabilidade e o significado verdadeiro das coisas submete-se mutuamente; são itens existenciais inseparáveis.

      Obsessão é moléstia da alma. Quando você compreender a simultaneidade que existe entre as influências espirituais negativas e seus atos e pensamentos íntimos, mais rapidamente dissolverá o elo existente entre eles. Alei da compensação se perpetua até que o homem tenha resolvido suas ações equivocadas e se engajado no legítimo fluxo das leis universais. Para cada conduta ou atitude errada a natureza solicita uma contra-ação que a equilibre.

      Na vida estamos tecendo uma malha existencial. Acada nova situação se interligam os fios que começamos a utilizar nas existências anteriores. Não podemos simplesmente anular o passado, mas podemos reformulá-lo e redirecioná-lo para a luz.

      O percurso de um novo dia é, inevitavelmente, influenciado pelas experiências e ações dos dias precedentes.

      A aflição para você tem sabor de eternidade, mas, em breve, ela poderá desaparecer. Basta procurar nos princípios espíritas os apontamentos lógicos e a exata orientação de que necessita para se libertar do desequilíbrio mental/emocional – a causa principal de sua obsessão.

      As reuniões mediúnicas auxiliarão em muito higienizar e restaurar a atmosfera fluídica de sua aura, contaminada por energias deletérias açi armazenadas. Provavelmente serão afastadas as entidades que atuam em seu dia a dia; mas se você não modificar seu modo de pensar e agir, abandonando as suas limitações, elas ou outras companhias desagradáveis poderão retornar.

      Sua mente guarda, zelosamente, fatos, informações, ideias e conceitos. Sua memória é o registro fiel de tudo quanto ocorreu com você através dos tempos, tanto no corpo físico como fora dele. Você cria a própria realidade com sua mente.

      Na verdade, você “veste” as emoções e os pensamentos dos espíritos e coopera na assimilação das sensações aflitivas lançadas sobre seu corpo astral. Você é um canal de expressão, e em sua intimidade, estão todas as matrizes de seus desarranjos. Suas emoções são semelhantes às fases da lua: ora “crescente”, ora “minguante”.

      Não se esqueça também que você é o único responsável pelas forças negativas que sugam suas energias e tentam dominar a sua casa mental. Não exste fatalidade em sua vida, apenas atração e repulsão, conforme sua afinidade.

      Na esfera física como na espiritual só se percebe e age em um espaço delimitado, quer dizer, cada pessoa atua segundo o seu grau de consciência ou em consonância com sua faixa vibratória.

      Na esquina da vida, você é um pedinte que suplica a esmola da paz. Mas, lembre-se de que é uma usina de forças, recebendo, doando e assimilando o magnetismo de outros seres, encarnados ou não. Os espíritos desequilibrados que estão ao seu redor apenas exploram suas fraquezas. Buscam pontos vulneráveis, envolvendo-o em seu baixo padrão vibracional. Portanto, ninguém ter o poder de transtornar a sua mente, a não ser que você ceda diante da perturbação.

      Quando você diz que é um ser humano bom, que nunca fez mal a ninguém, acredita estar vivendo um ato de injustiça. Porventura, já se perguntou: faço mal a mim mesmo? Será que respeito meus direitos pessoais? Considero minhas necessidades tão importantes quanto as dos outros?

      Para você se livrar das agressões dessas entidades, procure encontrar a área de sua vida que está insegura e fragilizada. Reforce-a a inicie um trabalho interior.

      Desfaça a necessidade de querer dos outros o que deve providenciar por si mesmo. Isso o aproximará da libertação. Pouco a pouco, a aflição que lhe atormenta os sentidos se esvairá, e experimentará uma força nova que brotará do seu interior, equilibrando os seus sentimentos descompensados.

Lourdes Caterine, Conviver e melhorar, p. 163-6.










CONCEPÇÃO DE DEUS NOS VEDAS



BRAHMAN (DEUS)

      Desde o início, o hinduísmo vem evoluindo. Acredita-se que num estágio inicial, os ancestrais dos hindus tenham sido politeístas. A terra, a água, o fogo, o vento, o céu, o sol, o amanhecer, a noite e a tempestade eram todos deificados e adorados como deuses. Mas enquanto os deuses eram glorificados pelos hinos védicos, as pessoas dirigiam-se e referiam-se a cada um desses deuses como sendo o Deus Supremo, o Senhor de todos os deuses, e o criador deste universo.

      Gradualmente, a mente indo-ariana descobriu um denominador comum por detrás dessa multiplicidade de deuses. O hino N.sad.ya, ou o hino da criação, do Rig-Veda, nos conta numa linda e poética linguagem a respeito de um único e primordial princípio, extremamente abstrato, designado como AQUILO, a partir do qual o mundo inteiro evoluiu. Esse princípio é a pura consciência, ou puro espírito. Esta além do mundo do espaço e do tempo, além da multiplicidade, insondável e impossível de ser conhecido por mentes humanas comuns. Tal princípio já existia antes mesmo que os deuses, os homens, ou qualquer outra coisa na criação existisse, e e a partir desse principio único que o mundo dos Muitos evoluiu. A genialidade indo-ariana finalmente chegou Àquele que é a única causa de tudo, o Único Deus, que em sânscrito védico chama-se Brahman. Após essa realização divina, os textos védicos repetidamente ecoaram a verdade a respeito da unidade de Brahman.

      As afirmações védicas como: “Ekam sad viprá bahudhã vadanti”- “Apenas Um existe, e os sábios chamam-No por vários nomes”, não só enfatiza a unidade de Deus, mas também cria uma firme fundação para a universalidade e a tolerância no hinduísmo. A ideia de harmonia entre as religiões e um ingrediente fundamental do hinduísmo. O grande sábio Manu declarou: ”A pessoa deve conhecer o Espirito Supremo que tudo governa, mais sutil que o mais sutil, de glória resplandecente, capaz de ser realizado pela meditação daqueles de mente pura. Alguns chamam-No Agni (o Fogo), outros chamam-No Manu (o Pensador), ou Prajãpati (o Senhor das criaturas), Indra (o Glorioso), Praná (a Fonte da vida), e o eterno Brahman (o Grandioso).

NIRGUNA BRAHMAN (Deus Impessoal)


      Se perguntarmos, “Quem existia antes da criação?”, a resposta lógica será “apenas o criador existia, ou Deus”. Mas se perguntarmos, ”Como era Deus antes da criação?”, então a resposta do hinduísmo sera que Deus, antes da criação, estava em seu estado de existência transcendental. Aqui, a palavra “transcendental” significa que a existência de Deus estava além do nosso tempo, espaço e causalidade. O hinduísmo sustenta que quando Deus criou o mundo, Ele também criou o tempo e o espaço. Portanto, a existência pré-criação deve estar alem do tempo e do espaço, pois esses pertencem exclusivamente a este mundo.

A existência de Deus nesse estado pode ser chamada de ”a verdadeira existência de Deus”. Nesse estado Deus esta além de todas as limitações que são impostas pelo tempo, pelo espaço e pela causalidade. Deus nesse estado transcendental é eterno, infinito e imutável.

      No hinduísmo, Deus, em seu estado transcendental de existência chama-se Nirguna Brahman, ou o Espirito Supremo, o Brahman Supremo, o Deus impessoal e sem atributos. Nirguna Brahman não pode ter uma personalidade, pois a personalidade é uma limitação. Não tendo uma personalidade, Nirguna Brahman esta taméem além de gêneros. Assim, os pronomes “Ele” ou “Ela” não podem ser usados para denotar Nirguna Brahman. Os Vedas usam o pronome neutro do sanscrito ”Tat”, que em português equivale ao pronome demonstrativo ”Aquilo”, indicando que Nirguna Brahman não é nem masculino, nem feminino. Exemplo: Tat tvam asi - Isto e Aquilo (Brahman).

     Ao transcender o espaço, Nirguna Brahman é Infinito. Ao transcender o tempo, Nirguna Brahman é Eterno. Livre das constantes mudanças geradas pela causalidade, Nirguna Brahman é imutável.

     O hinduísmo também usa expressões como ”Verdade Absoluta”, “Consciencia”e “Bem-aventurança Infinita” para designar Nirguna Brahman. Mas independente dos termos usados, Nirguna Brahman jamais pode ser descrito adequadamente através de palavras e expressões finitas, pertencentes ao nosso mundo de limitações. Nirguna Brahman é indescritível. O grande santo e filosofo hindu, Shankarãchãrya, diz que afirmações védicas tais como Sat-Chid-Ânandam-Brahman - Existência Eterna, Conhecimento Absoluto e Bem-aventurança Infinita - são apenas tentativas para descrever a natureza de Nirguna Brahman, nunca uma descrição verdadeira Daquilo que é indescritível.

SAGUNA BRAHMAN (Deus Pessoal)

      Quando uma pessoa, com a sua mente finita, tenta pensar no infinito Brahman, sem saber, projeta as limitações de sua mente finita em Nirguna Brahman. Resultando disso, Nirguna Brahman parece tornar-se finito para ela, pois a mente humana só pode pensar em termos humanos, e sem saber projeta características, ou qualidades, em Nirguna Brahman, que assim adquire uma personalidade que lembra muito uma personalidade humana, não importando quão glorificada seja. Nirguna Brahman impessoal parece tornar-se o Brahman pessoal, ou Deus pessoal. Na realidade, Nirguna Brahman não sofre qualquer mudança ou modificação, e o Deus pessoal não é diferente do Deus impessoal, ou Nirguna Brahman, só que experienciado através do véu do tempo, do espaço e da causalidade...

      O Deus pessoal no hinduísmo chama-se Saguna Brahman, ou Îshvara. Para o homem que está no mundo do tempo, espaço e causalidade, Îshvara, ou Saguna Brahman é o criador deste mundo. Ele é onipotente, onisciente e onipresente. Através da Sua vontade, Ele se manifesta como esse universo multifacetado. Ele esta além do bem e do mal do mundo.

      Îshvara é não somente o criador, mas também o preservador e o destruidor. A criação, a preservação e a destruição andam de mãos dadas neste mundo. Îshvara, portanto, tem esses três aspectos básicos, que são: (1) o aspecto criador, (2) o aspecto preservador, (3) o aspecto destruidor. Esses aspectos básicos de Îshvara chamam-se Brahmâ, Vishnu e Shiva, respectivamente. Quando Îshvara cria, Ele chama-se Brahmâ, enquanto preserva, Ele chama-se Vishnu, e quando destrói, Ele chama-se Shiva. Îshvara não é masculino ou feminino, embora os hindus vejam-No como pai e mãe, e de acordo com a atitude mental do devoto, este pode também estabelecer outros tipos de relacionamento com Îshvara. Eles podem vê-Lo como um amigo, como uma criança, e até mesmo como um marido, pois tais relacionamentos não são nada além de projeções mentais em Îshvara. Muitas das grandes santas do hinduísmo consideravam-se casadas espiritualmente com Deus, e viam-No como sendo o seu Marido Divino. Algumas santas viam Deus como sendo a Criança Divina. Muitos santos do hinduísmo, como Kamalâkânta, Râmprasâd, Srî Râmakrishna e outros, viam Deus como sendo a Mãe Divina. Tais relacionamentos eram puramente mentais e completamente livres de quaisquer associações com o corpo físico.

      De acordo com Srî Râmakrishna tais atitudes para com Deus podem gerar sentimentos de grande intimidade entre Deus e o devoto, e assim apressar a realização de Deus.

sábado, 2 de junho de 2012


DISSOLVENDO O SOFRIMENTO PASSADO



Enquanto não somos capazes de acessar o poder do Agora, vamos acumulando resíduos de sofrimento emocional. Esses resíduos se misturam ao sofrimento do passado e se alojam em nossa mente e em nosso corpo. Isso inclui o sofrimento vivido em nossa infância, causado pela falta de compreensão do mundo em que nascemos.

Todo esse sofrimento cria um campo de energia negativa que ocupa a mente e o corpo. Se olharmos para ele como uma entidade invisível com características próprias, estaremos chegando bem perto da verdade. É o sofrimento emocional do corpo. Apresenta-se sob duas modalidades: inativo e ativo. O sofrimento pode ficar inativo 90% do tempo, ou 100% ativado em alguém profundamente infeliz. Algumas pessoas atravessam a vida quase que inteiramente tomadas pelo sofrimento, enquanto outras passam por ele em algumas situações que envolvem relações familiares e amorosas, lesões físicas ou emocionais, perdas do passado, abandono etc. Qualquer coisa pode ativá-lo, especialmente se encontrar ressonância em um padrão de sofrimento do passado. Quando o sofrimento está pronto para despertar do estágio inativo, até mesmo uma observação inocente feita por um amigo ou um pensamento é capaz de ativá-lo.

Alguns sofrimentos são irritantes, mas inofensivos, como é o caso de uma criança que não pára de chorar. Outros são monstros destrutivos e mórbidos, verdadeiros demônios. Alguns são fisicamente violentos; outros, emocionalmente violentos. Eles podem atacar tanto as pessoas à nossa volta quanto a nós mesmos, seus “hospedeiros”. Os pensamentos e sentimentos relativos à nossa vida tornam-se, então, profundamente negativos e autodestrutivos. Doenças e acidentes frequentemente acontecem desse modo. Alguns sofrimentos podem até levar uma pessoa ao suicídio.

Às vezes levamos um choque ao descobrir uma faceta detestável em alguém que pensávamos conhecer bem. Entretanto, é mais importante observar essa situação em nós mesmos do que nos outros. Preste atenção a qualquer sinal de infelicidade em você, qualquer que seja a forma, pois talvez seja o despertar do sofrimento. Ele pode se manifestar como uma irritação, um sinal de impaciência, um ar sombrio, um desejo de ferir, sentimentos de raiva, ira, depressão ou uma necessidade de criar algum tipo de problema em seus relacionamentos. Agarre o sinal no momento em que ele despertar de seu estado inativo.

O sofrimento deseja sobreviver, mas, para isso, precisa conseguir que nos identifiquemos inconscientemente com ele. Portanto, quando o sofrimento toma conta de nós, cria uma situação em nossas vidas que reflete a própria frequência de energia da qual ele se alimenta. Sofrimento só se alimenta de sofrimento. Não se consegue alimentar de alegria. Acha-a indigesta.

Quando o sofrimento nos domina, faz com que desejemos ter mais sofrimento. Passamos a ser vítimas ou perpetradores. Queremos infligir sofrimento, ou senti-lo, ou ambos. Na verdade, não há muita diferença entre os dois. É claro que não temos consciência disso e afirmamos que não queremos sofrer. Mas, preste bem atenção e verá que o seu pensamento e o seu comportamento estão programados para continuar com o sofrimento, tanto para você quanto para os outros. Se você estivesse consciente disso, o padrão iria se desfazer, porque desejar mais sofrimento é uma insanidade, e ninguém é insano conscientemente.

O sofrimento, a sombra escura projetada pelo ego, tem medo da luz da nossa consciência. Teme ser descoberto. Sobrevive graças à nossa identificação inconsciente com ele, assim como do medo inconsciente de enfrentarmos o sofrimento que vive dentro de nós. Mas se não o enfrentarmos, se não direcionarmos a luz da nossa consciência sobre o sofrimento, seremos forçados a revivê-lo. O sofrimento pode nos parecer um monstro perigoso, mas eu lhe garanto que se trata de um fantasma frágil. Ele não pode prevalecer sobre o poder da nossa presença.

Alguns ensinamentos espirituais dizem que todo sofrimento é, em última análise, uma ilusão, e isso é verdade. A questão é se isso é uma verdade para você. Acreditar simplesmente não transforma nada em verdade. Você quer sofrer para o resto da vida e permanecer dizendo que é uma ilusão? Será que essa atitude livra você do sofrimento? O que nos interessa aqui é o que podemos fazer para vivenciar essa verdade, ou seja, torná-la real em nossas vidas.

Portanto, o sofrimento não quer que nós o observemos diretamente e vejamos o que ele realmente é. No momento em que o observamos, sentimos seu campo energético dentro de nós e desfazemos nossa identificação com ele, surge uma nova dimensão da consciência. Chamo a isso presença. Passamos a ser testemunhas ou observadores do sofrimento. Isso significa que ele não pode mais nos usar, fingindo ser nosso eu interior. Então, não temos mais como realimentá-lo. Aqui está nossa mais profunda força interior, Acabamos de acessar o poder do Agora.



O que acontece ao sofrimento quando nos tornamos conscientes o bastante para romper a nossa identificação com ele?



A inconsciência cria o sofrimento. A consciência transforma o sofrimento nela mesma. São Paulo expressa esse princípio universal de uma forma linda ao dizer: “Tudo é revelado ao ser exposto à luz e o que for exposto à própria luz se torna luz”. Assim como não se pode lutar contra a escuridão, não se pode lutar contra o sofrimento. Tentar fazer isso poderia gerar um conflito interior e um sofrimento adicional. Observar o sofrimento já é o bastante. Observá-lo implica aceitá-lo como parte do que existe naquele momento.

O sofrimento consiste na energia vital aprisionada que se desprendeu do campo energético total e se fez temporariamente autônoma, através de um processo artificial de identificação com a mente. Ela se volta para dentro de si mesma e se torna algo contrário à vida, como um animal tentando comer o próprio rabo. Por que você acha que a nossa civilização se tornou tão autodestrutiva? Acontece que as forças destrutivas da vida, ainda são energia vital.

Mesmo quando começamos a deixar de nos identificar e nos tornamos observadores, o sofrimento ainda continua a agir por um tempo e vai tentar fazer com que voltemos a nos identificar com ele. Embora não esteja mais recebendo a energia originada da nossa identificação com ele, o sofrimento ainda tem sua força, como uma roda-gigante que continua a girar, mesmo quando deixa de receber o impulso. Nesse estágio, o sofrimento pode até ocasionar dores em diversas partes do corpo, mas elas não vão durar. Esteja presente, fique consciente. Vigie o seu espaço interior. Você vai precisar estar presente e alerta para ser capaz de observar o sofrimento de um modo direto e sentir a energia que emana dele. Agindo assim, o sofrimento não terá força para controlar o seu pensamento. No momento em que o seu pensamento se alinha com o campo energético do sofrimento, você está se identificando com ele e, de novo, alimentando-o com os seus pensamentos.

Por exemplo, se a raiva é a vibração de energia que predomina no sofrimento e você alimenta esse sentimento, insistindo em pensar no que alguém fez para prejudicá-lo ou no que você vai fazer em relação a essa pessoa, é porque você já não está mais consciente, e o sofrimento se tornou “você”. Onde existe raiva, existe sempre um sofrimento oculto. Quando você começa a entrar em um padrão mental negativo e a pensar como a sua vida é horrorosa, isso quer dizer que o pensamento se alinhou com o sofrimento e que você passou a estar inconsciente e vulnerável a um ataque do sofrimento. Utilizo a palavra “inconsciência” no presente contexto para significar uma identificação com um padrão mental ou emocional. Isso implica uma ausência completa do observador.

Manter-se em um estado de alerta consciente destrói a ligação entre o sofrimento e o mecanismo do pensamento, e aciona o processo de transformação. E como se o sofrimento se tornasse o combustível para a chamada da consciência, resultando em um brilho de mais intensidade. Esse é o significado esotérico da antiga arte da alquimia: a transformação do metal não-precioso em ouro, do sofrimento em consciência. A separação interior cicatriza, e você se torna inteiro outra vez. Cabe a você, então, não criar um sofrimento adicional.

Resumindo o processo: concentre a atenção no sentimento dentro de você. Reconheça que é o sofrimento. Aceite que ele esteja ali. Não pense a respeito. Não permita que o sentimento se transforme em pensamento. Não julgue nem analise. Não se identifique com o sentimento. Esteja presente e observe o que está acontecendo dentro de você. Perceba não só o sofrimento emocional, mas também a presença “de alguém que observa”, o observador silencioso. Esse é o poder do Agora, o poder da sua própria presença consciente. Veja, então, o que acontece.

TOLLE, Eckart. O poder do agora. Rio: Sextante, 2002 p 20-2.