EVANGELHO DE DOMINGO








12. PROVAS VOLUNTÁRIAS. O VERDADEIRO CILÍCIO (15.11.15 - ESE V:26)
11. A VERDADEIRA PROPRIEDADE (08.11.15 - ESE XVI:9)
10. A FIGUEIRA SECA (23.08.15 - ESE XIX:9)
9. A INGRATIDÃO DOS FILHOS E OS LAÇOS DE FAMÍLIA (02.11.14 - ESE XIV:9)
8. TODO AQUELE QUE SE ELEVA SERÁ REBAIXADO (26.10.14 - ESE VII:3 e 6)
7. A FELICIDADE NÃO É DESTE MUNDO (16.03.14 - ESE V:20)
6. OS FALSOS PROFETAS (23.02.14 - ESE XXI:8)
5. A LEI DE AMOR (16.02.14 - ESE XI:8)
4. PAGAR O MAL COM O BEM (09.02.14 - ESE XII:1)
3. EFICÁCIA DA PRECE (04.02.14 - ESE XXVII:7)
2. A BENEFICÊNCIA (02.02.14 - ESE XIII:14)
1. AJUDA-TE E O CÉU TE AJUDARÁ (26.01.14 - ESE XXV:1-2)




PROVAS VOLUNTÁRIAS. O VERDADEIRO CILÍCIO



Perguntais se é permitido abrandar as vossas provas; essa questão leva a esta: é permitido àquele que se afoga procurar se salvar? àquele que tem um espinho cravado, de o retirar? àquele que está doente, de chamar o médico? As provas têm por objetivo exercitar a inteligência, assim como a paciência e a resignação; um homem pode nascer numa posição penosa e difícil, precisamente para obrigá-lo a procurar os meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em suportar sem lamentação as consequências dos males que não se podem evitar, em perseverar na luta, em não se desesperar se não for bem sucedido, mas não num desleixo que seria preguiça mais que virtude. 

Essa questão conduz naturalmente a uma outra. Uma vez que Jesus disse: "Bem-aventurados os aflitos", há mérito em procurar as aflições, agravando as próprias provas por sofrimentos voluntários? A isso responderei muito claramente: sim, há um grande mérito quando os sofrimentos e as privações têm por objetivo o bem do próximo, porque é a caridade pelo sacrifício; não, quando não têm por objetivo senão a si mesmo, porque resulta do egoísmo por fanatismo.

Há aqui uma grande distinção a fazer; para vós, pessoalmente, contentai-vos com as provas que Deus vos envia, e não aumenteis a sua carga, às vezes, tão pesada; aceitá-las sem lamentações e com fé, é tudo que ele vos pede. Não enfraqueçais vosso corpo com privações inúteis e mortificações sem objetivo, porque tendes necessidade de todas as vossas forças para cumprir a vossa missão de trabalho na Terra. Torturar voluntariamente e martirizar vosso corpo é contravenção à lei de Deus, que vos dá o meio de sustentá-lo e fortificá-lo; enfraquecê-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio.  Usai, mas não abuseis; tal é a lei; o abuso das melhores coisas traz sua punição nas consequências inevitáveis.

Outra coisa é o sofrimento que se impõe para alívio do próximo. Se suportais o frio e a fome para aquecer e alimentar aquele que disso tem necessidade, e se o vosso corpo com isso sofre, eis o sacrifício que é abençoado por Deus. Vós que deixais vossos aposentos perfumados para ir à mansarda infecta levar a consolação; vós que manchais vossas mãos delicadas cuidando de chagas; vós que vos privais do sono para velar à cabeceira de um doente que não é senão vosso irmão em Deus; vós, enfim, que usais vossa saúde na prática de boas obras, eis vosso cilício, verdadeiro cilício de bênção, porque as alegrias do mundo não secaram vosso coração; não adormecestes no seio das volúpias destruidoras da fortuna, mas vos fizestes anjos consoladores dos pobres deserdados.

Mas vós, que vos retirais do mundo para evitar suas seduções e viver no isolamento, qual vossa utilidade na Terra? onde está a vossa coragem nas provas, uma vez que fugis da luta e desertais do combate? Se quereis um cilício, aplicai-o sobre vossa alma e não sobre o vosso corpo, mortificai vosso espírito e não vossa carne; fustigai vosso orgulho; recebei as humilhações sem vos lamentar; pisai vosso amor-próprio; resisti contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente que a dor corporal. Eis o verdadeiro cilício, cujas feridas vos serão contadas, porque elas atestarão vossa coragem e vossa submissão à vontade de Deus (UM ANJO GUARDIÃO, Paris, 1863)
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, V:26.




A VERDADEIRA PROPRIEDADE

            O homem não possui de seu senão o que pode levar deste mundo. O que encontra ao chegar, e o que deixa ao partir, goza durante a sua permanência na Terra; mas, uma vez que é forçado a abandoná-lo, dele não tem senão o gozo e não a posse real. Que possui ele, pois? Nada daquilo que é para o uso do corpo, tudo o que é para o uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais; eis o que traz e o que leva, o que não está no poder de ninguém lhe tirar, o que lhe servirá mais ainda no outro mundo do que neste; dele depende sair mais rico em sua partida do que em sua chegada, porque daquilo que tiver adquirido em bem depende a sua posição futura. Quando um homem vai para um país longínquo, compõe a sua bagagem de objetos usáveis no país; mas não se carrega daqueles que lhe seriam inúteis. Fazei, pois, o mesmo para a vida futura, e fazei provisão de tudo o que poderá nela vos servir.

            Ao viajor que chega a uma estalagem, se dá um belo alojamento se pode pagá-lo; àquele que pode pouca coisa, se dá um menos agradável; quanto àquele que nada tem, vai deitar sobre a palha. Assim ocorre com o homem na sua chegada ao mundo dos Espíritos: seu lugar nele está subordinado ao que tem; mas não é com o ouro que o paga. Não se lhe perguntará: Quanto tínheis sobre a Terra? que posição nela ocupáveis? Éreis príncipe ou operário? Mas, se lhe perguntará: O que dela trazeis? Não se computará o valor de seus bens nem dos seus títulos, mas a soma de suas virtudes; ora, a esse respeito, o operário pode ser mais rico que o príncipe. Em vão se alegará que, antes da sua partida, pagou a sua entrada com ouro e se lhe responderá: Os lugares aqui não se compram, eles se ganham pelo bem que se fez; como dinheiro terrestre, pudestes comprar campos, casas, palácios; aqui tudo se paga com as qualidades do coração. Sopis rico destas qualidades? Sede bem-vindo, e ide ao primeiro lugar onde todas as felicidades vos esperam; sois pobre? Ide ao último, onde sereis tratado em razão do que tendes (PASCAL, Genebra, 1860).

EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, XVI:9






A FIGUEIRA SECA


      A figueira seca é o símbolo das pessoas que não têm senão as aparências do bem, mas em realidade não produzem nada de bom; oradores que têm mais brilho do que solidez; suas palavras têm o verniz da superfície; agradam aos ouvidos, mas quando perscrutadas, nelas não se encontra nada de substancial para o coração; depois de tê-las ouvido, pergunta-se qual proveito disso se tirou.

      É ainda o emblema de todas as pessoas que têm os meios de serem úteis e não o são; de todas as utopias, de todos os sistemas vazios, de todas as doutrinas sem base sólida. O que falta, na maioria das vezes, é a verdadeira fé, a fé fecunda, a fé que comovas fibras do coração; numa palavra, a fé que transporta montanhas. São árvores que têm folhas, mas não frutos; por isso, Jesus as condena à esterilidade, porque um dia virá em que estarão secas até a raiz; quer dizer que todos os sistemas, todas as doutrinas que não tiverem produzido nenhum bem à Humanidade, cairão no nada; que todos os homens voluntariamente inúteis, por falta de terem colocado em prática os recursos que tinham, serão tratados como a figueira seca.


EVANGELHO SEGUINDO O ESPIRITISMO, XIX:9






A INGRATIDÃO DOS FILHOS E OS LAÇOS DE FAMÍLIA



      A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo: revolta sempre os corações honestos; mas a dos filhos em relação aos pais, tem um caráter ainda mais odioso; é sob esse ponto de vista especialmente que vamos encará-la para analisar-lhe as causas e os efeitos. Aqui, como por toda a parte, o Espiritismo veio lançar luz sobre um dos problemas do coração humano.

      .....

     Deus não faz a prova acima das forças daquele que a pede; não permite senão aquelas que podem ser cumpridas; se não se triunfa, não é, pois, a possibilidade que falta, mas a vontade, porque quantos há que em lugar de resistir aos maus arrastamentos, neles se comprazem, a estes estão reservados os prantos e os gemidos em suas existências posteriores; mas admirai a bondade de Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento. Chega um dia em que o culpado está cansado de sofrer, em que seu orgulho está enfim domado, e é então que Deus abre seus braços paternais ao filho pródigo que se lhe lança aos pés. As fortes provas, entendei-me bem, são quase sempre o indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, quando são aceitas por amor a Deus. É um momento supremo, e nele, sobretudo, importa não falir murmurando, se não se quer perder-lhe o fruto e ter de recomeçar. Em lugar de vos lamentardes, agradecei a Deus que vos oferece ocasião de vencer para vos dar o prêmio da vitória. Então, quando saídos do turbilhão do mundo terrestre, entrardes no mundo dos Espíritos, nele sereis aclamados como soldado que sai vitorioso do meio do combate.

      ......

      Os Espíritos que a semelhança dos gostos, a identidade de progresso moral e a afeição levam a se unirem, formam famílias; esses mesmos Espíritos, em suas migrações terrestres, se procuram para se agruparem como o fazem no espaço; daí nascem as famílias unidas e homogêneas; e se, em suas peregrinações, estão momentaneamente separados, reencontram-se mais tarde, felizes com os novos progressos. Mas como não devem trabalhar unicamente para si, Deus permite que os Espíritos menos avançados venham a se encarnar entre eles para aí haurir conselhos e bons exemplos, no interesse de seu adiantamento; eles causam, por vezes, perturbações, mas aí está a prova, aí está a tarefa. Acolhei-os pois, como irmãos; vinde em sua ajuda e, mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família se felicitará de haver salvo do naufrágio os que, a seu turno, poderão salvá-a de outros. (Santo Agostinho, Paris, 1862).





TODO AQUELE QUE SE ELEVA SERÁ REBAIXADO


       Nesse mesmo tempo, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe disseram: Quem é o maior no reino dos céus? Jesus, tendo chamado uma criança, colocou-a no meio deles e lhes disse: eu vos digo em verdade que se vós não vos converterdes, e se não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino dos céus. Todo aquele, pois, que se humilhar e se tornar pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus, e todo aquele que recebe em meu nome uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim que recebe [...].

      Essas máximas são a consequência do princípio de humildade que Jesus não cessa de colocar como condição essencial da felicidade prometida aos eleitos do Senhos, e que formulou por estas palavras: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus". Ele toma uma criança como modelo da simplicidade de coração e diz: Será o maior no reino dos céus, quem se humilhar e quem se fizer pequeno como uma criança; quer dizer, quem não tiver nenhuma pretensão de superioridade ou de infalibilidade.

      O mesmo pensamento fundamental se encontra nesta outra máxima: "Que aquele que quiser-se tornar o maior, seja vosso servidor", e nesta: "Todo aquele que se rebaixa será elevado, e todo aquele que se eleva será rebaixado".

      O Espiritismo vem sancionar a teoria pelo exemplo, em nos mostrando grandes no mundo dos Espíritos aqueles que eram pequenos na Terra, e frequentemente, bem pequenos aqueles que nela eram os maiores e os mais poderosos. É que os primeiros levaram, em morrendo, aquilo que, unicamente, faz a verdadeira grandeza no céu e não se perde: as virtudes; enquanto que os outros deveram deixar o que fazia a sua grandeza na Terra, e não se leva: a fortuna, os títulos, a glória, o nascimento; não tendo nenhuma outra coisa, eles chegam no outro mundo desprovidos de tudo, como náufragos que tudo perderam, até suas vestes; não conservaram senão o orgulho que torna sua nova posição mais humilhante, porque veem acima deles, e resplandescentes de glória, aqueles que espezinharam na Terra.

      O Espiritismo mostra uma outra aplicação desse princípio nas encarnações sucessivas, onde aqueles que foram os mais elevados numa existência, são rebaixados à última posição numa existência seguinte, se foram dominados pelo orgulho e pela ambição. Não procureis, pois, o primeiro lugar na Terra, nem vos colocar acima dos outros, se não quereis ser obrigados a descer; procurai, ao contrário, o mais humilde e o mais modesto, porque Deus saberá vos dar um lugar mais elevado nos céus, se o merecerdes.






A FELICIDADE NÃO É DESTE MUNDO


          Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! Exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova melhor do que todos os raciocínios possíveis a verdade desta máxima do Eclasiastes: “A felicidade não é deste mundo.” Com efeito, nem a fortuna, nem o poder, nem mesmo a juventude florescente, são as condições essenciais da felicidade; digo mais: nem mesmo a reunião dessas três condições tão desejadas, uma vez que se ouvem sem cessar, no meio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as cidades se lamentarem amargamente de sua condição de ser.

      Diante de tal resultado, é inconcebível que as classes laboriosas e militantes invejem com tanta cobiça a posição daqueles a que a fortuna parece ter favorecido. Neste mundo, qualquer coisa que se faça, cada um tem sua parte de trabalho e de miséria, seu quinhão de sofrimento e de decepções. De onde é fácil chegar à conclusão de que a Terra é um lugar de provas e de expiações.

         Assim pois, aqueles que pregam ser a Terra a única morada do homem, e que só nela, e numa só existência, lhe é permitido atingir o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam aqueles que os escutam, já que está demonstrado, por uma experiência arquissecular, que este globo não encerra senão excepcionalmente as condições necessárias à felicidade completa do indivíduo.

       Em tese geral, pode-se afirmar que a felicidade é uma utopia, na busca da qual as gerações se lançam sucessivamente sem poder jamais alcançá-la; porque se o homem sábio é uma raridade nesse mundo, o homem absolutamente feliz nele se encontra menos.

     Aquilo em que consiste a felicidade sobre a Terra é uma coisa tão efêmera para aquele que não age sabiamente que , por um ano, um mês, uma semana de completa satisfação, todo o resto se escoa numa sequência de amarguras e decepções; notai, meus caros filhos, que falo aqui dos felizes da Terra, daqueles que são invejados pelas multidões.

     Consequentemente, se a morada terrestre está destinada às provas e à expiação, é preciso admitir que existem alhures moradas mais favoráveis onde o Espírito do homem, ainda aprisionado numa carne material, possui em sua plenitude as prazeres ligados à vida humana. Por isso, Deus semeou no vosso turbilhão esses belos planetas superiores para os quais vossos esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando estiverdes suficientemente purificados e aperfeiçoados.

     Todavia, não deduzais das minhas palavras que a Terra esteja dedicada para sempre a uma destinação penitenciária: não, certamente! Porque os progressos realizados podeis deduzir facilmente os progressos futuros, e dos melhoramentos sociais conquistados, novos e mais fecundos melhoramentos. Tal é a tarefa imensa que deve realizar a nova doutrina que os Espíritos vos revelaram.

      Assim, meus caros filhos, que uma santa emulação vos anime, e que cada um dentre vós despoje energicamente o homem velho. Deveis tudo à divulgação deste Espiritismo que já começou a vossa própria regeneração. É um dever fazer vossos irmãos participarem dos raios da luz sagrada. À obra, pois, meus bem-amados filhos! Que nesta reunião solene, todos os vossos corações aspirem a este objetivo grandioso de preparar, às novas gerações, um mundo em que a felicidade não será mais uma palavra vã. (François-Nicolas-Madeleine, cardeal Morlot, Paris, 1863).








OS FALSOS PROFETAS


       8. Se vos disserem: “O Cristo está aqui”, não vades, mas, ao contrário, ponde-vos em guarda, porque falsos profetas serão numerosos. Não vedes as folhas da figueira que começam a embranquecer; não vedes seus brotos numerosos esperando a época de floração, e o Cristo não vos disse: Reconhece-se uma árvore pelo seu fruto? Se, pois, os frutos são amargos, julgais que a árvore é má; mas se são doces e salutares, dizeis: Nada de puro pode sair de um tronco mau.


      É assim, meus irmãos, que deveis julgar; são as obras o que deveis examinar. Se aqueles que se dizem revestidos do poder divino estão acompanhados de todas as marcas de semelhante missão, quer dizer, se possuem no mais alto grau as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a indulgência, a bondade que concilia todos ops corações; se, em apoio às palavras, eles juntam os atos, então podereis dizer: Estes são realmente os enviados de Deus.

      Mas desconfiais das palavras hipócritas, desconfiais dos escribas e dos fariseus que oram nas praças públicas, vestidos de longas roupas. Desconfiais daqueles que pretendem ter o único monopólio da verdade!

     Não, não, o Cristo não está aí,. Porque aqueles que ele envia para propagar a sua santa doutrina, e regenerar seu povo, serão, a exemplo do Mestre, brandos e humildes de coração acima de todas as coisas; aqueles que devem por seus exemplos e seus conselhos, salvar a Humanidade que corre para sua perdição e perambulando nas rotas tortuosas, estes serrão acima de tudo modestos e humildes. Todo aquele que revele um átimo de orgulho, fugi dele como da lepra contagiosa, que corrompe tudo o que toca. Lembrai-vos de que cada criatura leva na fronte, mas nos seus atos sobretudo, o cunho de sua grandeza ou de sua decadência.

    Ide, pois, meus filhos bem-amados, marchai sem vacilações, sem preconceitos, na rota bendita que empreendestes. Ide, ide sempre sem temor; afastai corajosamente tudo o que poderia entravar a vossa marcha até o objetivo eterno. Viajores, não estareis senão bem pouco tempo ainda nas trevas e nas dores da prova, se deixardes os vossos corações buscar essa doce doutrina que vem vos revelar as leis eternas, e satisfazer todas as aspirações da vossa alma quanto ao desconhecido. Desde o presente, podeis dar corpo a esse silfos fugazes que víeis passar em vossos sonhos, e que, efêmeros, não podiam senão encantar o vosso espírito, mas não diziam nada ao vosso coração. Agora, meus amados, a morte desapareceu para dar lugar ao anjo radioso que conheceis, o anjo do reencontro e da reunião! Agora, vós que bem cumpristes a tarefa imposta pelo Criador, não tendes mais nada a temer da sua justiça, porque ele é pai e perdoa sempre a seus filhos transviados que clamam misericórdia. Continuai, pois, avançai sem cessar; que a vossa divisa seja a do progresso, do progresso contínuo em todas as coisas, até que chegueis, enfim, a esse termo feliz onde vos esperam todos aqueles que vos precederam. (Luís, Bordéus, 1861).
EVANGELHO SEGUINDO O ESPIRITISMO, XXI:8





A LEI DE AMOR

          O amor resume inteiramente a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu início, o homem não tem senão instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas este sol interior que condensa e reúne em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e aniquila as misérias sociais. Feliz aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor seus irmãos em dores! Feliz aquele que ama, porque não conhece nem a angústia da alma, nem a miséria do corpo; seus pés são leves, e vive como que transportado para fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou esta palavra divina – amor -, ela fez estremecer os povos, e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.

              O Espiritismo, por seu turno, vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino; estai atentos, porque esta palavra ergue a pedra dos túmulos vazios, e a reencarnação, triunfando sobre a morte, revela ao homem maravilhado seu patrimônio intelectual; não é mais aos suplícios que ela o conduz, mas à conquista do seu ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito, e o Espírito deve hoje resgatar o homem da matéria.

            Disse eu que no seu início o homem não tem senão instintos e aquele, pois, em que os instintos dominam, está mais próximo do ponto de partida que do objetivo. Para avançar em direção ao objetivo, é preciso vencer os instintos em proveito dos sentimentos, quer dizer, aperfeiçoar estes, sufocando os germes latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões do sentimento; eles carregam consigo o progresso, como a bolota encerra o carvalho, e os seres menos avançados são aqueles que, não se despojando senão pouco a pouco de sua crisálida, permanecem escravizados aos instintos. O Espírito deve ser cultivado como um campo; toda riqueza futura depende do labor presente, e mais do que bens terrestres, levar-vos,á à gloriosa elevação; é então que, compreendendo a lei do amor que une todos os seres, nela encontrareis as suaves alegrias da alma, que são o prelúdio das alegrias celestes. (Lázaro, Paris, 1862).
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO XI:8








PAGAR O MAL COM O BEM



           1. Aprendestes o que foi dito: Amareis vosso próximo e odiareis vossos inimigos. E eu vos digo: Amai vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam e oreis por aqueles que vos perseguem e caluniam; afim de que sejais os filhos de vosso Pai que está nos céus, que faz erguer o Sol sobre os bons e sobre os maus, e faz chover sobre os justos e os injustos; porque se não amardes senão aqueles que vos amam, que recompensa disso tereis? Os publicanos não o fazem também? E se não saudardes senão os vossos irmãos, que fazeis nisso mais que os outros? Os publicanos não o fazem também? Eu vos digo que se a vossa justiça não for mais abundante que a dos Escribas e dos Fariseus, não entrareis no reino dos céus (Mateus, 5:20, 43-7).
                                                                             EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO XII:1






EFICÁCIA DA PRECE


        7. Seria ilógico concluir desta máxima: “o que quer que seja que pedirdes pela prece vos será concedido”, que basta pedir para obter, e seria injusto acusar a Providência Divina porque não cede a todo pedido que lhe é feito, pois ela sabe, melhor do que nós, o que é para o nosso bem. O mesmo ocorre com um pai sábio que recusa ao filho as coisas contrárias ao interesse deste. O homem, geralmente, não vê senão o presente; ora, o sofrimento é útil à sua felicidade futura. Deus o deixaria sofrer, como o cirurgião deixa o doente sofrer uma operação, que deve conduzi-lo à cura.


          O que Deus concederá, se se dirige a ele com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. O que concederá, ainda, são os meios de sair por si mesmo da dificuldade, com as ideias que lhe são sugeridas pelos bons Espíritos, deixando-lhes, assim, o mérito. Assiste àqueles que ajudam a si mesmos, segundo esta máxima: “Ajuda-te que o céu te ajudará”, e não àqueles que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das próprias faculdades; mas, geralmente, prefere-se ser socorrido por um milagre sem nada fazer. (Cap. XXV, nº 1 e seguintes).
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO XXV:7






A BENEFICÊNCIA


          Há várias maneiras de se fazer a caridade, que muitos dentre vós, confundem com a esmola; há, todavia, uma grande diferença. A esmola, meus amigos, é algumas vezes útil porque alivia os pobres; mas é quase sempre humilhante para aquele que a faz e para aquele que a recebe. A caridade, ao contrário, liga o benfeitor e o beneficiado, e depois se disfarça de tantas maneiras! Pode-se ser caridoso mesmo com os parentes, com os amigos, sendo indulgentes uns para com os outros, em se perdoando as fraquezas, em tendo cuidado para não ferir o amor próprio de ninguém: para vós, espíritas, em vossa maneira de agir para com aqueles que não pensam como vós; em conduzindo os menos esclarecidos a crerem, e isso sem os chocar, sem contradizer as suas convicções, mas conduzindo muito suavemente às nossas reuniões, onde poderão nos ouvir, e onde saberemos encontrar a brecha do coração por onde devemos penetrar. Eis um aspecto da caridade.

         Escutai agora a caridade para com os pobres, esses deserdados do mundo, mas recompensados por Deus, se sabem aceitar suas misérias sem as murmurar, o que depende de vós. Vou me fazer compreender por um exemplo.

           Vejo várias vezes por semana uma reunião de senhoras, de todas as idades; para nós, como sabeis, são todas irmãs. Que fazem elas? Trabalham depressa, depressa; os dedos são ágeis; vede como os rostos são radiosos e como os corações batem em uníssono! Mas qual é o seu objetivo? É que elas veem se aproximar o inverno que será rude para os pobres; as formigas não puderam amontoar durante o verão os grãos necessários à provisão, e a maior parte dos seus pertences está empenhada; as pobres mães se inquietam e choram pensando nas criancinhas que, neste inverno, terão frio e fome! Mas, paciência, pobres mulheres! Deus inspirou a mulheres mais afortunadas do que vós; elas estão reunidas e vos confeccionando roupinhas; depois, num desses dias, quando a neve houver coberto a terra, e murmurardes dizendo: “Deus não é justo”, porque é a vossa palavra habitual, a vós que sofreis; então, vereis aparecer um dos filhos dessas boas trabalhadoras que constituíram em operárias dos pobres; sim, é para vós que elas trabalham assim, e vossa murmuração se mudará em bênçãos, porque no coração dos infelizes, o amor segue de bem perto o ódio.


           Como é preciso a todas essas trabalhadoras um encorajamento, vejo as comunicações dos Bons Espíritos chegar de todas as partes; os homens que fazem parte dessa sociedade trazem também seu concurso fazendo uma dessas leituras que agradam tanto; e nós, para compensar o zelo de todos e de cada um em particular, prometemos a essas operárias laboriosas uma boa clientela que lhes pagará, dinheiro contado, em bênçãos, única moeda que tem curso no céu, lhes assegurando, por outro lado, e sem medo de muito avançarmos, que ela não lhes faltará. (CARITAS, Lião, 1861).
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, XIII:14



AJUDA-TE, E O CÉU TE AJUDARÁ



          1. Pedi e se vos dará; buscais e achareis; batei à porta e se vos abrirá; porque todo aquele que pede recebe, quem procura acha, e se abrirá àquele que bater à porta.

          Também, qual é o homem entre vós que dá uma pedra ao filho quando lhe pede pão? Ou se pede um peixe, lhe dará uma serpente? Se, pois, sendo maus como sois, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, com quanto mais forte razão, vosso Pai, que está nos céus, dará os verdadeiros bens àqueles que lhos pedem (Mateus, VII:7-11).


         2. Sob o ponto de vista terrestre, a máxima: Buscai e achareis é análoga a esta: Ajuda-te e o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho, e por conseguinte, da lei do progresso, porque o progresso é o fim do trabalho, e o trabalho coloca em ação as forças da inteligência.

          Na infância da Humanidade, o homem não aplica sua inteligência senão à procura de sua alimentação, dos meios de se preservar das intempéries e de se defender dos seus inimigos; mas Deus lhe deu, a mais do que ao animal, o desejo incessante do melhor, e é este desejo do melhor que o impele à procura dos meios de melhorar sua posição, que o conduz às descobertas, às invenções, ao aperfeiçoamento da ciência, porque é a ciência que lhe proporciona o que lhe falta. Através das suas pesquisas, sua inteligência aumenta, sua moral se depura; às necessidades do corpo sucedem as necessidades do espírito; após o alimento material, é preciso o alimento espiritual, e é assim que o homem passa da selvageria à civilização.

            Mas o progresso de cada homem cumpre, individualmente, durante a sua vida, é bem pouca coisa, imperceptível mesmo num grande número; como então a Humanidade poderia progredir sem a preexistência e a reexistência da alma? As almas, indo-se cada dia para não mais voltarem, a Humanidade se renovaria sem cessar com os elementos primitivos, tendo tudo a fazer, tudo a aprender; não haveria, pois, razão para que o homem fosse mais avançado hoje do que nas primeiras idades do mundo, uma vez que, a cada nascimento, todo o trabalho intelectual estaria por recomeçar. A alma, ao contrário, voltando com o seu progresso realizado, e adquirindo cada vez alguma coisa a mais, é assim que ela passa gradualmente da barbárie à civilização material, e desta à civilização moral. (Ver cap. IV, nº 17).
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, 25:1-2


Nenhum comentário: