terça-feira, 29 de novembro de 2011


AS QUATRO NOBRES VERDADES


      Se, agora, nos concentrarmos nos mecanismos das causas e efeitos referentes à nossa existência, naturalmente tomaremos nossa experiência pessoal como base para cultivar um entendimento mais profundo. Nesse contexto, os ensinamentos de Buda sobre as “Quatro nobres verdades” podem se mostrar extremamente úteis porque estão diretamente relacionadas à nossa própria experiência, especialmente ao desejo inato de buscar a felicidade e superar o sofrimento. Em resumo, o ensinamento de Buda sobre as “Quatro nobres verdades” nos leva: em primeiro lugar, a um profundo reconhecimento da natureza do sofrimento; depois, ao reconhecimento das origens do sofrimento; em seguida, ao reconhecimento da possibilidade da cessação do sofrimento; e, finalmente, ao reconhecimento do caminho que conduz a essa realidade.

      O budismo reconhece três níveis de sofrimento: o sofrimento do sofrimento, o sofrimento da mudança e o sofrimento difuso da existência condicionada. Com relação ao primeiro – o sofrimento do sofrimento -, até mesmo os animais são capazes de identificar essas experiências evidentemente dolorosas como indesejáveis. Assim como nós, eles mostram um instinto natural para evitar tais experiências e se livrar delas. Com respeito ao segundo nível de sofrimento – o sofrimento da mudança -, até mesmo os praticante não budistas podem cultivar com sucesso tanto o reconhecimento de que isso é indesejável como o desejo de se liberar dele.

      O sofrimento do condicionamento difuso é típico do budismo. Praticantes espirituais que desejam buscar a libertação total da existência cíclica devem desenvolver um profundo reconhecimento dessa forma de sofrimento. Precisamos cultivar a compreensão de que o sofrimento do condicionamento difuso não só age com base para a nossa experiência atual de sofrimento, mas, crucialmente, também serve como fonte de futuras experiências de sofrimento. Com base nesse firme reconhecimento de nossa existência extremamente condicionada como forma de sofrimento, devemos então cultivar o verdadeiro desejo de buscar a liberdade. Nosso sentimento de desejo de liberdade deve ser de tal modo poderoso que sintamos que essa existência condicionada deva ser uma doença grave, da qual desejamos ansiosamente nos recuperar o mais rápido possível.

      O que dá origem a esse terceiro nível de sofrimento, ou seja, o sofrimento do condicionamento difuso? O budismo identifica os dois elementos do carma e as aflições como verdadeiras origens do sofrimento. O carma nasce das aflições mentais, que são essencialmente de dois tipos: aflições conceituais, como pontos de vista equivocados, e aflições emocionais, como a luxúria, a raiva e a inveja. Nós nos referimos a elas como “aflições” (nyongmong, em tibetano) porque seu surgimento no coração e na mente imediatamente cria uma forma de aflição, caracterizada por um estado de profunda perturbação e intranquilidade, que conduz a outros níveis de aflição na mente e no coração, como ser atormentado pela tristeza, confusão e outras formas de sofrimento.

      Geralmente, todas essas aflições mentais são geradas por três venenos básicos que perturbam a mente – apego, raiva e ilusão. A ilusão é a base dos outros dois e de todas as nossas aflições e, no contexto do pensamento budista Mahayana, a ilusão se refere à visão equivocada que temos sobre a real existência das coisas e acontecimentos. Assim sendo, ao erradicarmos a ilusão – que é a causa de todas as aflições – poderemos lutar e dar um fim ao sofrimento e, dessa forma, alcançar a verdadeira liberação (moksha, em sânscrito).

      Em seus textos Fundamento do caminho do meio, o influente pensador budista de século 2° Nagarjuna explica que poderemos ver além de nossa ilusão e levar toda essa cadeia equivocada de causas e efeitos a um fim, somente se cultivarmos a compreensão quanto ao vazio do eu e dos fenômenos. Consequentemente, a compreensão do vazio combinada ao cultivo da paixão é a verdadeira essência da prática dos ensinamentos do Buda. Um praticante que se sente realizado e que alcançou a verdadeira cessação do sofrimento continuará a viver de acordo com esse princípio no mundo por meio de ações compassivas. Descrevo esse fato como uma atividade maravilhosa de alguém que compreendeu o vazio e se entrega a um comportamento compassivo.

DALAI LAMA. Iluminando o caminho. São Paulo: Ed. Fundamento, 2005. p 32-4




quarta-feira, 23 de novembro de 2011


      11. A reencarnação pode dar-se na Terra ou em outros mundos. Há entre os mundos alguns mais adiantados onde a existência se exerce em condições menos penosas que na Terra, física e moralmente, mas onde também só são admitidos Espíritos chegados a um grau de perfeição relativo ao estado desses mundos.

      A vida nos mundos superiores já é uma recompensa, visto nos acharmos isentos, aí, dos males e vicissitudes terrenos. Onde os corpos, menos materiais, quase fluídicos, não mais são sujeitos às moléstias, às enfermidades, e tampouco têm as mesmas necessidades. Excluídos os Espíritos maus, gozam os homens de plena paz, sem outra preocupação além da do adiantamento pelo trabalho intelectual.
    
     Reina lá a verdadeira fraternidade, pois não há egoísmo; a verdadeira igualdade, porque não há orgulho, e a verdadeira liberdade por não haver desordens a reprimir, nem ambiciosos que procurem oprimir o fraco.

Comparados à Terra, esses mundos são verdadeiros paraísos, quais pousos ao longo do caminho do progresso conducente ao estado definitivo. Sendo a Terra um mundo inferior destinado à purificação dos Espíritos imperfeitos, está nisso a razão do mal que aí predomina, até que praza a Deus fazer dela morada de Espíritos mais adiantados. Assim é que o Espírito, progredindo gradualmente à medida em que se desenvolve, chega ao apogeu da felicidade; porém, antes de ter atingido a culminância da perfeição, goza de uma felicidade relativa ao seu progresso. A criança também frui os prazeres da infância, mais tarde os da mocidade, e finalmente mais sólidos, da madureza.


      12. A felicidade dos Espíritos bem-aventurados não consiste na ociosidade contemplativa, que seria, como temos dito muitas vezes, uma eterna e fastidiosa inutilidade.

      A vida espiritual em todos os seus graus é, ao contrário, uma constante atividade, mas atividade isenta de fadigas.

      A suprema felicidade consiste no gozo de todos os esplendores da Criação, que nenhuma linguagem humana jamais poderia descrever, que a imaginação mais fecunda não poderia conceber. Consiste também na penetração de todas as coisas, na ausência de sofrimentos físicos e morais, numa satisfação íntima, numa serenidade dalma imperturbável, no amor que envolve todos os seres, por causa da ausência de atrito pelo contato com os maus, e, acima de tudo, na contemplação de Deus e na compreensão dos seus mistérios revelados aos mais dignos. A felicidade também existe nas tarefas cujo encargo nos faz felizes. Os puros Espíritos são os Messias ou mensageiros de Deus pela transmissão e execução das vontades. Preenchem as grandes missões, presidem à formação dos mundos e à harmonia geral do Universo, tarefa gloriosa a que não se não chega senão pela perfeição. Os da ordem mais elevada são os únicos a possuírem os segredos de Deus, inspirando-se no seu pensamento, de que são diretos representantes.

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Rio, FEB, 1997. p 33-4

domingo, 20 de novembro de 2011

NIRBAL KE BALA RAMA*

    Embora tenha adquirido um conhecimento razoável do hinduísmo e outras religiões, viria a apender que apenas esse conhecimento não era suficiente para me ajudar nas adversidades. Ninguém sabe o que salva um homem em seus momentos mais críticos, nem de onde ele tira a sua força. Se for uma pessoa sem fé, provavelmente atribuirá o fato de ter-se salvo por acaso. Se for uma pessoa de fé, dirá que Deus o salvou, e provavelmente concluirá que seus estudos religiosos ou sua disciplina espiritual estão por trás do estado de graça em que se encontra.
    
     Num momento de desespero, porém, a pessoa não consegue discernir como ocorre esse resgate. Quem, orgulhoso de sua força espiritual, já não a viu humilhada até o pó? O conhecimento religioso, ao contrário da experiência em si, é apenas um grão de areia em momentos de adversidade. Foi na Inglaterra que descobri que o conhecimento religioso em si é fútil. Não sei como tinha me livrado de algumas situações-limite na minha vida até então. 

GANDHI, M. K. Autobiografia - minha vida e minhas esperiências com a verdade.
São Paulo: Palas Athena, 1999. p 75.

*Rama é o amparo dos desamparados, a força dos fracos.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

IX – PROCESSO DE AUTOCURA


      A criatura humana possui, inexplorados, valiosos recursos que aguardam a canalização conveniente. Entre eles, a bioenergia é fonte de inexauríveis potencialidades, que o desconhecimento e a negligência direcionam em sentido equivocado, malbaratando inconscientemente forças preciosas.
      Insensível à óptica comum, a irradiação bioenergética passa despercebida, exercendo influência no inter-relacionamento pessoal, graças a qual provoca ondas de simpatia como de animosidade, conforme a procedência de um indivíduo moralmente são ou enfermo.
      Captada pelo perispírito, nele interfere através do campo que exterioriza, facultando renovar as forças ou perturbá-las de acordo com o tipo de descargas que propicia.
      Essa bioenergia é responsável pela atração interpessoal, qual ocorre no campo molecular, celular, gravitacional, universal.
      Semelhante à invisível camada energética que envolve a Terra e que somente é registrada por aparelhos especiais, de igual modo ela é somente percebida através da paranormalidade ou de câmeras ultravelozes em filmes também ultrassensíveis.
       A sua ação, todavia, é de mais fácil registro na emotividade, nas áreas afetadas por enfermidades, pelas reações psicológicas que provocam nos relacionamentos humanos.
      Referindo-se aos fenômenos que produzia, Jesus, o Excelso Curador, foi peremptório, afirmando: “Vocês podem fazer coisas maiores do que estas”, se quiserem.
      O querer é de lata importância, porquanto representa não apenas a vontade interesseira, imediatista, porém, todo o empenho, todo o investimento de recursos para adquirir-se o pleno comando dessa força e a sua hábil canalização com objetivos elevados.
      É de igual relevância a finalidade da sua aplicação. Todos aqueles que a utilizam na vulgaridade, no divertimento, fazem joguete do próprio desequilíbrio, passando a sofrer-lhe os efeitos danosos do mau direcionamento dado.
     O exercício e a aplicação saudável da bioenergia, entretanto, desenvolvem-lhe o campo da ação benéfica, tornando-a valioso recurso curativo de inestimável significação.
      Pode-se direcioná-la mediante a oração, a concentração, a meditação e os sentimentos bons, a benefício do próximo, bem como do próprio, trabalhando-a para auxiliar na recuperação da saúde, da paz, do bem-estar, dos objetivos elevados.
      Não se farão de imediato os resultados, como é compreensível, porém, eles ocorrerão no momento próprio. Sendo o sofrimento uma necessidade para o Espírito devedor, a sua liberação depende de inúmeros requisitos devidamente observados, alguns dos quais já foram analisados.

      Não obstante, o amor de Deus, por misericórdia de acréscimo, faculta ao comprometido oportunidade de experimentar o equilíbrio, a fim de motivá-lo ao labor para a sua aquisição definitiva.
     Assim, diante de sofrimentos advindos, particularmente, de enfermidades, devem-se levar em consideração alguns fatores, a fim de propiciar-se a autocura. Por elasticidade de aplicação, quando necessário, direcioná-los em favor de outros enfermos.


1. OBSERVE-SE O PENSAMENTO,
O SEU TEOR PREFERENCIAL,
A FIM DE QUE IRRADIE ENERGIAS POSITIVAS, SAUDÁVEIS.

      A atitude imediata é desejar-se a saúde com fervor, não porque se queira libertar da doença, pura e simplesmente.
     A liberação de uma enfermidade, se não produz o engajamento do paciente em atividades psíquicas e físicas positivas, faculta a presença de outras doenças.
      O anseio por adquirir a saúde deve estar acompanhado de objetivos edificantes, que podem ser alcançados, e não do interesse imediato pelos prazeres que se deseje fruir, descarregando ondas de energia negativa nos intrincados mecanismos perispirituais responsáveis pela ação posterior.
      Esse ensejo de saúde é firmado na crença e na certeza de que o “Pai não quer a destruição do pecador, mas do pecado”, e quem defrauda a lei deve recompor-se perante ela.
      A firmeza do desejo, sem ansiedade nem tormento, a fim de que se não torne uma imposição, mas sim, uma solicitação, concede tranquilidade ao enfermo, constituindo o primeiro resultado precedente à cura.
      De imediato, deve-se concentrar na saúde, considerar-lhe a validade, a abundância de possibilidades edificantes que propicia, de realizações produtivas, de efeitos benéficos para si e para a coletividade.
      Ao concentrar-se nela, que se entregue de corpo e alma aos resultados que advirão, deixando-se impregnar pelo otimismo com irrestrita confiança em Deus, trabalhando mentalmente pela restauração das forças combalidas em contínuo esforço a favor do bem-estar.
      A irritação, a ansiedade, o inconformismo, o ciúme, a rebeldia devem ser rejeitados, sempre que se insinuem nas paisagens mentais, por serem portadores de raios destruidores que atingem os fulcros celulares e os desarranjam, alterando-lhes o ritmo e a multiplicação.
      As ideias enobrecedoras, os planos de futura ação benéfica são portadores de energia equilibrante, que estimula os complexos campos celulares, propiciando-lhes harmonia a produtividade.
      Nesse esforço, é de bom alvitre visualizar a saúde e incorporá-la.
     O indivíduo deve concentrar-se numa visão saudável, projetando-se no tempo em condições de equilíbrio; ver-se recuperado, assumindo responsabilidades e desenvolvendo atividades que pretende encetar.
      Essa projeção mental reestrutura os mecanismos do perispírito afetado, recompondo-lhe o campo, de que resultam os efeitos em forma de saúde, de harmonia e de entusiasmo.
      Os pacientes, em geral, com as exceções naturais, sempre visualizam o estado de agravamento do mal que os aflige, atirando no organismo projéteis mentais destrutivos.
      Não poucas vezes, Jesus afirmou àqueles doentes que O buscavam: Se quiseres, que queres, concluindo: levanta-te e anda, vê, sê limpo, conforme a enfermidade de que se faziam objeto.
       Naquele momento, o enfermo saía do campo vibratório das sombras, no qual se homiziava, e abria-se à energia vigorosa do Benfeitor Divino, que lhe alterava a área em desordem, restaurando-lhe a saúde.
      Assim, visualizar-se com saúde no futuro e programar-se em ação constituem fatores fundamentais para a autocura.

2. MANTER SINTONIA MENTAL COM A FONTE DO PODER

      Todo amor procede de Deus, a Fonte do Poder. Como consequência, a sintonia mental do paciente com a Causalidade se torna imprescindível para a recuperação da saúde.
      Sendo a enfermidade o resultado da desarmonia vibratória dos órgãos que compõem a maquinaria orgânica, permitindo a proliferação dos elementos destrutivos, todo trabalho de regularização deve partir da energia para o corpo, do Espírito para a matéria.
      Desse modo, a identificação mental do necessitado com a Fonte Geradora da Vida torna-se essencial para o restabelecimento da harmonia.
     Assim, o cultivo das ideias positivas favorece a identificação com as faixas vibratórias mais elevadas, produzindo a sintonia necessária com o Poder Supremo.
      A oração é outro veículo por meio do qual se produz a sintonia mental com Deus. Ela faculta uma análise das necessidades humanas em relação às finalidades essenciais da existência, ao tempo em que propicia o relaxar das tensões, estimulando as forças enfraquecidas e renovando-as, graças ao que se abrem as possibilidades de recuperação da saúde.
      Habituado os pensamentos vulgares, agindo sob os impulsos de depressão ou de violência, o indivíduo intoxica-se de vibrações deletérias, que mais o perturbam e o enfermam.
      A mudança de diretriz mental, a fixação de ideias saudáveis geram uma psicosfera harmoniosa que produz as condições propiciatórias ao bem-estar, em sintonia inicial com a saúde.
     Quem aspira o oxigênio puro mais se desintoxica, ampliando a própria capacidade respiratória.
     De igual modo, a sintonia mental com a Fonte do Poder propicia o restabelecimento de energias saudáveis, que reinstalam no organismo o equilíbrio perdido, restabelecendo a harmonia vibratória que fomenta o predomínio dos agentes de saúde.
      Mesmo diante da aparente demora de recuperação é justo que se processe a sintonia, que somente benefícios emocionais, psíquicos e orgânicos proporciona.
      O ser se deve elevar a Deus, não apenas para pedir e buscar benefícios imediatos, mas, também, para manter-se em harmonia com a própria vida.
     Tal estado de sintonia abre as portas da percepção extrafísica à inspiração, ao equilíbrio e à coragem para enfrentar quaisquer vicissitudes e situações afligentes imprevisíveis ou não.
     Quando alguém se eleva a Deus, ergue com seu gesto toda a humanidade.
      A sintonia com Ele, Fonte do Poder, é causa de felicidade e fator de paz.

3. CUIDAR DO DESCANSO, DA DIETA, DA HIGIENE,
MANTENDO ORDEM NAS ATIVIDADES

      O descanso físico é de alta importância no programa da autocura, todavia, o repouso mental, advindo da harmonia dos pensamentos, torna-se vital, um fator imprescindível para a instalação da saúde.
      Uma mente em repouso não significa em ociosidade, antes, em ação positiva, que gera equilíbrio. Esse, proporciona descanso das excitações, das emoções e sensações perturbadoras, geratrizes de doenças, de sofrimentos.
       As leituras edificantes e otimistas, ricas de esperança, propiciam repouso mental e físico, predispondo o organismo à calma, à harmonia.
       Esse descanso, igualmente, pode ser conseguido por uma alimentação bem balanceada, na qual se evitem os excessos de qualquer natureza, especialmente aqueles de assimilação difícil, muito ricos em calorias e de digestão demorada.
      Alimentação para a vida, respeitando os limites impostos pela enfermidade, ao invés da vida para a alimentação, que complica as funções do organismo alquebrado, que necessita de todas as resistências para vencer o estado de desgaste.
       A higiene também desempenha papel preponderante na reconquista da saúde. Ela faculta mais ampla eliminação de toxinas, ao tempo que proporciona agradável sensação de leveza.
       A higiene física também impõe a de natureza mental, cujo complexo, quando poluído pelas preferências perniciosas, exterioriza a desagregação das engrenagens orgânicas, à semelhança de ferrugem em peças mecânicas que se devem ajustar harmoniosamente.
       Esses fatores põem ordem nas atividades que a doença não interrompe, ou naqueles que, não obstante o problema da saúde, merecem reflexão, programação para posterior execução.
       Quem não se programa sofre as surpresas da improvisação com os danos, porventura, presentes.
      O leito de enfermidade é lugar para acuradas meditações e estabelecimento de metas, que a agitação do cotidiano em outra situação não permite. Ao mesmo tempo, a revisão dos atos e comportamentos torna-se oportuna, buscando descobrir a gênese de alguns dos males ora desencadeados ou os efeitos das ações impensadas que geraram os distúrbios agora sofridos.
       A degenerescência orgânica é fácil e rápida, enquanto que a recuperação é complexa e demorada. Toda construção e reedificação exigem tempo e experiência, não ocorrendo o mesmo com a ação destrutiva.
      A vida saudável, portanto, são os esforços concentrados para a manutenção dos equipamentos da maquinaria corporal, sob equilibrado comando do Espírito.
       Certamente encontramos corpos sadios e de aparência harmoniosa sob a direção de Espíritos frívolos, ignorantes e até perversos. É natural a ocorrência, que passará a um plano lamentável no futuro, em razão do seu mau uso atual, exigindo lenta e sofrida recuperação mediante enfermidades dilaceradoras, dolorosas.
       É a Lei Divina, pois ninguém malbarata o patrimônio da vida sem experimentar as suas funestas consequências.
       Da mesma forma, com frequência, são encontrados corpos mutilados e padecentes, nos quais habitam Espíritos sadios, ditosos. São eles os mestres da abnegação, que acima dos limites orgânicos, sem qualquer angústia, lecionam coragem diante da dor e ressarcem antigos débitos, que ficaram nas páginas do tempo e agora se apresentam para proporcionar a libertação total de quem os adquiriu.
       Em toda a Criação vige a lei da igualdade, graças a qual ninguém frui de felicidade em caráter de exceção. A luta é o clima por onde passam todos os seres na via de evolução.

4. CANALIZAÇÃO DOS PENSAMENTOS E DAS EMOÇÕES
PARA O AMOR, A COMPAIXÃO, A JUSTIÇA, A EQUANIMIDADE E A PAZ

      A preservação do pensamento otimista predispõe a um estado emocional receptivo à saúde. Fácil, pois, se torna canalizá-lo para as expressões nobilitantes do amor, da compaixão, da justiça, da equanimidade e da paz.
      O amor, que é o élan mágico que unirá todas as criaturas um dia, deve ser cultivado na condição de experiência nova, que o exercício converterá em um hábito, em um estado normal do Espírito.
       A sua força restaura a confiança nos homens e na vida, porquanto, a sua presença produz estímulos, facultando que, periodicamente, o sangue receba renovação de cargas de adrenalina, produzindo revigoramento orgânico.
      Pela sua óptica os acontecimentos apresentam angulações antes não percebidas, permitindo que as emoções não se entorpeçam, nem se exaltem, ao mesmo tempo em que predispõe o indivíduo à compaixão, fator humanizador da criatura.
       Quando as forças conjugadas do medo e da ira, da mágoa e da vingança, do ciúme e do ódio começas a perturbar a emoção, o sentimento de compaixão pelo algoz, apresentando-o frágil e vulnerável, evita que o desequilíbrio trabalhe em favor da agressividade por parte da vítima. Essa passa a ver o seu adversário como sendo um doente da alma, que ignora a gravidade do próprio mal, e, ao invés de derrapar na animosidade, envolve-o com ondas de simpatia, de compreensão, não devolvendo o malefício que dele recebeu.
       No quadro das doenças que abalam os homens, encontramos instaladas no perispírito várias matrizes de ódio, de ressentimento, de azedume, em relação a outras pessoas.
       O amor propicia a compaixão que se gostaria de receber, caso a situação fosse oposta, diminuindo a intensidade do golpe recebido e anulando-lhe os efeitos danosos. Ela fala sobre a justiça inexorável de Deus que alcança a todos e propõe a bondade para com o opositor, conscientizando-o, embora indiretamente, de que o mal é sempre pior para quem o pratica.
       A justiça, por sua vez, jaz insculpida na consciência de cada pessoa que pode ser anestesiada por algum tempo, jamais, porém, impossibilitada de manifestar-se.
      O equivocado conhece o seu erro, mesmo quando o disfarça, e assim procede porque lhe sabe a procedência.
      Encobrir uma ferida não impede que ela permaneça decompondo a área, na qual se encontra instalada.
     A justiça na consciência impõe reparação do delito e das suas consequências infelizes, induzindo as vítimas a que não assumam a postura de cobradores, já que as leis soberanas dispõem de recursos que impedem se contraiam novos, quando se corrigem velhos débitos.
      Para culminar seu objetivo, tem ela que ser estruturada na equanimidade, que discerne como aplicá-la, sem o contributo emocional da paixão de qualquer natureza, porém com a finalidade superior de corrigir sem desforço e recuperar sem maus-tratos.
      O sentimento de equanimidade nasce da razão que discerne e da emoção que compreende, fazendo que o recurso e o método de reeducação sejam os mesmos para todos os incursos nos seus códigos, não sendo severa em demasia para uns e generosa em excesso para com outros. A sua linha reta de ação abrange na mesma faixa todos os infratores, prodigalizando-lhes idêntico tratamento.
      A consciência de amor com equanimidade propõe a paz, que tira as tensões e inspira o prosseguimento da ação. Estado íntimo de harmonia, irradia-se em sucessivas ondas de tranquilidade que se exteriorizam, promovendo a absorção e fixação das energias saudáveis no organismo.
      O pensamento canalizado para a paz se torna uma onda que sincroniza com a Fonte do Poder, contribuindo para o entendimento geral e a fraternidade, que é o passo inicial do amor entre as criaturas.
      No processo de autocura, o Espírito recupera as energias gastas, vitaliza, mediante a ação do pensamento, os fulcros perispirituais e predispõe-se ao resgate pelo amor, sem a intenção de negociar benefícios, antes, com a de se tornar um elemento útil no concerto social, membro ativo do progresso geral e não um peso desagradável quão infeliz na economia do grupo humano onde se encontra.
       Coautor da sua recuperação, ele haure na Fonte providencial do amor de Deus as energias sãs, saindo das sombras da enfermidade para as luzes da saúde, disposto a contribuir decisivamente em favor do mundo melhor de hoje e de amanhã, renovado, esclarecido e feliz.

FRANCO, Divaldo P. (pelo espírito Joanna de Angelis) Plenitude. Salvador: Leal, 1991 p. 99-110

segunda-feira, 14 de novembro de 2011


AS BEM-AVENTURANÇAS


5. Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos;

2. e ele passou a ensiná-los, dizendo:

3. Bem-aventurados os humildes de espírito, pois deles é o reino dos céus;

4. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados;

5. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra;

6. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos;

7. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia;

8. Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus;

9. Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados de filhos de Deus;

10. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;

11. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós;

12. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.

Mateus, 5:1-12




domingo, 13 de novembro de 2011







EXERCÍCIO TRADICIONAL DE MEDITAÇÃO


 Pare o que estiver fazendo; interrompa o que estiver pensando.
Fique à vontade. Relaxe.
Encontre seu equilíbrio. Se estiver sentado no chão de pernas cruzadas, acomode as pernas de modo a sentir que elas estão onde devem estar. Se você estiver sentado em uma almofada, arrume-a da maneira que preferir. Se estiver sentado em uma cadeira, apoie os pés uniformemente no chão. Se estiver de pé, ajeite o corpo.
Mantenha a coluna ereta e o corpo relaxado. Deixe cair os ombros.
Acomode-se no momento presente.
Deixe sua energia acomodar-se naturalmente; deixe sua respiração acomodar-se naturalmente; deixe que seus pensamentos se acomodem naturalmente.
Recupere o seu controle.
Venha para o momento presente.
Chegue aonde você deve estar.
Sinta-se no momento presente.
Inspire e expire.
Ao inspirar, concentre-se na respiração. Conte um.
Ao expirar, concentre-se na expiração. Conte dois.
Um ao inspirar, dois ao expirar.
Acompanhe o ritmo da respiração.
Deslize sobre a respiração.
Descanse a mente sobre a onda simples, regular e calma da respiração.
Conscientize-se do que está sentindo. Observe as sensações físicas que seu corpo está experimentando. Preste atenção à sensação nos ombros, observe os pensamentos que borbulham e ascendem à superfície da sua mente. Observe-os e simplesmente deixe-os ir embora. Você não precisa nem elaborá-los nem se envolver com eles. Continue a respirar. Focalize a inspiração. Focalize a expiração. E solte-se.
Acomode-se no momento presente. Permaneça consciente das ocorrências efetivamente percebidas de momento a momento: uma leve dor no ombro, o ruido próximo de um avião que acaba de decolar, o farfalhar das folhas das árvores ao vento, o som abafado da televisão do vizinho que passa pela parede, o zumbido de um radiador. Não reprima suas percepções ou sentimentos; observe simplesmente o que está acontecendo e deixe que se dissolva no novo momento que se inicia. Permaneça desperto; continue alerta; preste atenção.
Inspire... Expire. Permaneça concentrado. Solte cada respiração, não fique preso a ela. Solte cada pensamento; não fique preso a ele. Fique atento aos seus pensamentos; observe-os e solte-os. Se sentir dor no ombro, chame a sensação de “desconforto” e libere-a. Se o barulho do avião interromper sua concentração nomeie-o “ouvindo” e solte-o. Se a temperatura na sala esfriar, mencione “frio” e solte-o. Liberte-se de suas preocupações; não se prenda a elas. Liberte-se de qualquer tentativa de controlar a mente; não se atenha a isso. Solte-se um pouco mais cada vez que expirar.

DAS, Surya. O despertar do coração budista. Rio de Janeiro: Rocco, 2002. p103-4.

sábado, 12 de novembro de 2011


NÃO É A PRIMEIRA VEZ QUE ESTAMOS AQUI

NASCER, VIVER E MORRER,
A VIDA SEGUE MAIS ALÉM,
REPETIDAS VEZES RENASCER
A FIM DE FIXAR O BEM

        Embora o véu do esquecimento nos tolde a lembrança, esta não é a primeira vez em que estamos vivendo na Terra.
        Já estivemos aqui, palmilhando os caminhos poeirentos do mundo, muitas e muitas vezes.
        E isso, como tudo, tem a sua razão de ser: necessitamos acumular experiências e aprendizados, faculdades e aptidões, virtudes e valores novos, desenvolvendo as potencialidades da nossa alma.
        Até pode parecer simplista, mas o objetivo da vida pode ser resumido em uma única palavra, ou melhor, num verbo que indica, obviamente, ação: APRENDER.
        Se reencarnamos sucessivas vezes é, justamente, para aprendermos, alargando progressivamente os círculos da nossa consciência, tanto moral quanto intelectualmente.


        As Entidades Venerandas que colaboraram com Allan Kardec na obra da Codificação Espírita esclarecem que: “Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, como fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõem é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros só as suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade”i.
        Somos criados, segundo os informes dos Espíritos, simples e ignorantes, sendo, cada um de nós, responsável pelo seu processo de desenvolvimento, através de aprendizagens variadas e constantes, objetivando atingir a perfeição relativa que nos é necessária e indispensável. Este desenvolvimento, entretanto, só é possível mediante a sucessão das existências, já que uma única vida sobre a Terra, por melhor que fosse o seu aproveitamento, não seria suficiente para completar o nosso ciclo evolutivo, que nos impõe uma ascensão contínua e quase sempre muito demorada.
         Essa doutrina da reencarnação tem sido ensinada em todos os tempos, deste a mais Alta Antiguidade até o presente, constituindo eixo ecentral de muitas religiões e filosofias.
        Jesus ensinou, no célebre diálogo com Nicodemos, que “[...] quem não nascer de novo, não poderá ver o Reino de Deus”ii, confirmando a reencarnação, que, como se depreende, passaria a ser um dos pontos fundamentais do Cristianismo Primitivo, ainda que alguns, por interesses particulares, o neguem. Ante a incompreensão do Doutor da Lei, Jesus obtempera: “Nicodemos! És mestre em Israel e ignoras estas coisas! Em verdade, em verdade te digo, dizemos o que sabemos, e damos testemunho do que vimos, mas não recebeis o nosso testemunho. Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?”iii Jesus se surpreende e lastima a ignorância de Nicodemos com respeito à reencarnação, justo ele que era um dos homens mais esclarecidos e conhecedores do Judaísmo. Sendo um Doutor da Lei, Nicodemos deveria, por conseguinte, estar informado sobre uma das correntes esotéricas mais importantes do Judaísmo, a Caabala, que, sobretudo na obra de Zohar, toma como fundamento dos seus ensinos o princípio da reencarnação. Daí o estranhamento de Jesus ante o desconhecimento de Nicodemos.
        A reencarnação, como não poderia deixar de ser, é consequência direta do fato de sermos imortais. Deus, quando da nossa criação, projetou-nos de tal modo que trazemos conosco um programa que nos impede de estacionar definitivamente numa determinada posição ou condição, dirigindo-nos, através de leis inderrogáveis, a um crescimento ritmado e sempre progressivo, que se acelera na razão direta das conquistas que vamos fazendo de encarnação a encarnação. Assim, desde a sua origem o Espírito obedece a leis que impulsionam o seu processo de desenvolvimento, conduzindo-o à plenificação de todas as suas potencialidades, a fim de que sua destinação se cumpra. Considerando isso, a reencarnação constitui condição obrigatória ao ser imortal, sendo-lhe indispensável ao processo de maturação e evolução incessantes, representando, deste modo, o caminho através do qual chegaremos até Deus.
        Os Espíritos, como vimos acime, afirmam que as vidas sucessivas trazem o ensejo da renovação, permitindo ao indivíduo que se comprometeu com o erro, aniquilando as mais santas oportunidades de elevação, possa refazer os seus caminhos, rearmonizando-se com a vida e com as Divinas Leis.
        Da mesma forma como o escolar às vezes precisa repetir determinada lição, a maioria de nós encontra-se reencarnada para recapitular experiências malogradas.
        Os desafios de hoje, em grande parte, são os mesmos de ontem e é, por isso mesmo, mister vencê-los!
        Tristeza, melancolia, amargura, apenas para citar alguns exemplos, podem ser congênitos, isto é, podem ter nascido conosco, por fazerem parte da bagagem do nosso ser, representando um padrão negativo que persiste em nós e do qual precisamos nos libertar.
        Habilidades, talentos, qualidades, tendências de qualquer tipo, boas ou más, igualmente, resultam de experiências de nossas vidas pregressas.
        Importa que combatamos em nós tudo o que nos seja prejudicial, o “bom combate”iv de que falava o Apóstolo Paulo, promovendo, em contrapartida, a vazão e o desdobramento dos potenciais que possuímos, gérmens de Deus à espera de maturação.
        A reencarnação, portanto, é bênção de Deus para todos nós, oportunizando-nos, em cada passagem pela Terra, nova etapa de aprendizado.
        Aproveitar a reencarnação, do ponto de vista espiritual, é medida que denota sabedoria interior, por estarmos, dessa forma, alinhando a nossa vontade com a Vontade Divina, que deseja apenas o nosso crescimento e felicidade.
        Maximizamos o tempo de que disponhamos na Terra, aplicando-o, como denodo e diligência, na conquista de valores elevados e nobres que garantam o sucesso do nosso empreendimento espiritual mais caro, que é a vitória na atual existência terrena.
STEIGLEDER, Carlos G. Ensinamentos para uma vida melhor. Sapiranga: Ed do Autor, 2010. p 35-40.
iKARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 76ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995. Questão 115, p. 95.
iiJoão, 3:3
iiiJoão, 3:10-2
ivII Timóteo, 4:7

terça-feira, 8 de novembro de 2011


POLUIÇÃO E PSICOSFERA

        Ecólogos de todo o mundo preocupam-se, na atualidade, com a poluição devastadora, que resulta em detritos superlativos que são atirados nos oceanos, nos rios, lagos e “terras inúteis” circunjacentes às grandes metrópoles, como o tributo pago pelo conforto e pelas conquistas tecnológicas, desde os urgentes ingredientes e artefatos para a sobrevivência, às indústrias bélicas, às de explorações novas, às “de inutilidade” que atiram centenas de milhões de toneladas de lixo, óleos e resíduos em todo lugar.

        Além dessas, convém recordarmos a de natureza sonora, dos centros urbanos, produzindo distonias graves e contínuas...

        Os mais pessimistas, porém, preveem a possível destruição da vida vegetal, animal e hominal como efeito dos excessivos restos produzidos pelos engenhos de que o homem se utiliza, e logo o esmagarão após transformar a Terra num caos...

        Mais grave, demonstram os técnicos no assunto importante, é a poluição atmosférica, graças às substâncias venenosas que são expelidas pelas fábricas em forma de resíduos, pelos motores de explosão a se multiplicarem fantástica, insaciavelmente, e os inseticidas usados para a agricultura...

        Voluptuosas e desconsertadas por desvarios múltiplos do homem, as máquinas avançam, dirigidas pela inconcebível ganância, desbastando reservas florestais e influindo climatericamente com transformações penosas nas regiões, então, vencidas...

       O espectro de calamidades não imaginadas ronda e domina com segurança muitos departamentos ambientais ora reduzidos à aridez...

       Cifras assustadoras denotam o quanto se desperdiça na inutilidade – embora a elevada estatística chocante dos que se estorcegam na mais ínfima miséria, rebolcando-se na coleta dos montes de lixo, à cata de destroços de que possam retirar o mínimo para sobreviver! - comprovando que no galvanizar das paixões, o homem moderno, à semelhança de Narciso, continua a contemplar a imagem refletida nas águas perigosas da vaidade e do egoísmo em que logo poderá asfixiar-se, inerme ou desesperado. No entanto, irrefletido, impõe-se exigências dispensáveis, a que se escraviza, complicando a própria e a situação dos demais usuários dos recursos da generosa mãe-Terra.

        Nesse panorama deprimente, e para sanar alguns dos males imediatos e outros do futuro, sugestões e programas hão surgido preocupando as autoridades responsáveis pelos Organismos Mundiais, no sentido de serem tomadas providências coletivas e salvadoras urgentes. Algumas já estão sendo postas em prática, embora em número reduzido, tais o reflorestamento; a ausência de tráfego com motores de explosão em algumas cidades uma vez por semana; a tentativa de industrialização do lixo, com aproveitamento de energia, adubos e outros; controle no uso de pesticidas na lavoura; técnicas não poluentes com o fim de gerar energia; as áreas verdes nas cidades; a segurança por meio de controle das experiências nucleares, a fim de ser evitada a contaminação...

        Afirma-se que por onde o homem e a civilização passam ficam os sinais danosos de sua jornada, em forma de aridez, destruição e morte.

        As grandes Nações, materialmente estruturadas e guindadas ao ápice pela previsão futurológica de mentes e computadores que prometiam tudo resolver, fazendo soberbas e vãs as criaturas, foram surpreendidas, há pouco, pelas consequências gerais da própria impetuosidade, no resultado da guerra do Oriente Médio, fazendo-as parar e modificando, em muitas delas, as estruturas e programas, previsões e soberania pelas exigências do deus petróleo em que se estabeleceram as bases do seu poderio e das suas glórias decepcionadas, atônitas...

        Algumas tiveram a economia abalada, padecendo crises que resultaram do gravame geral, modificando política interna e externa, num atestado de nulidade quanto aos compromissos humanos assumidos, à segurança e precariedade das humanas forças.

        Como resultado, apressam-se as negociações internacionais por acordos diplomáticos e conchavos político-econômicos, enquanto a fome, campeando desassombradamente, confirma a falência dos cálculos e das fantasias materialistas, visivelmente perturbadas no testemunho dos seus líderes em convulsas transações com que tentam reequilibrar o poderio avassalado, quando não, perdido...

        O poder de um dia, qual efêmera glória, sempre muda de mão e local, fazendo oscilarem, mudarem de rumo os interesses, as supostas proteções, fruto, indubitavelmente, de uma poluição descuidada – a de natureza moral!

        A força e a grandeza de alguns povos até há pouco mandatários da Terra cederam lugar aos potentados reais, que se demoravam desconsiderados e as exigências da fome ameaçadora e voraz os situou como as legítimas potências que são disputadas, após o deus negro: o arroz, o trigo, o milho e o sorgo, cujos celeiros, quase vazios no mundo, deles necessitam com urgência para a sobrevivência dos seres.

        Todavia, o homem ingere e disparte mais terrível poluição, venenosa quão irrefreável graças ao cultivo de lamentáveis atitudes em que persevera e se compraz: referimo-nos à poluição mental que interfere na ecologia psicosférica da vida inteligente, intoxicando de dentro para fora e desarticulando de fora para dentro.

        Estando a Terra vitimada pelo entrechoque de vibrações, ondas e mentes em desalinho, como decorrência do desamor, das ambições desenfreadas, dos ódios sistemáticos, as funestas consequências se fazem presentes não apenas nas guerras externas e destrutivas, mas também nas rudes batalhas no lar, na família, no trabalho, nas ruas da comunidade, no comportamento. Intoxicado pelas ira, vencido pelo desespero que agasalha, foge na direção dos prazeres selvagens nos quais procura relaxar tensões, adquirindo mais altas cargas de desequilíbrio em que se debate.

        A poluição mental campeia livre, favorecendo o desbordar daquela de natureza moral, fator primacial para as outras que são visíveis e assustadoras.
  
        O programa, no entanto, para o saneamento de tão perigoso estado de coisas, já foi proposto por Jesus, o Sublime Ecólogo que em a Natureza, preservando-a, abençoando-a, dela se utilizou, apresentando os métodos e técnicas da felicidade, da sobrevivência ditosa nos incomparáveis discursos e realizações de que inundou a História, estabelecendo as bases para o reino de amor e harmonia, sem fim, sem dores, sem apreensões...

        Nunca reagiu o Mestre – sempre agiu com sabedoria.

        Jamais se permitiu ferir – deixou-se, porém, crucificar.

        Nenhuma agressão de sua parte – facultou-se, no entanto, ser agredido.

        Por onde passou, deixou concessões de esperança, bálsamo de reconforto, amenidade e paz. Seus caminhos ficaram floridos pelas alegrias e abençoados pelos frutos da saúde renovada.

        Rei Solar, fez-se servo humilde de todos, mantendo-se inatingido, embora o ambiente em que veio construir a Vida Nova para os tempos futuros...

        Repassa-Lhe a sublime trajetória.
Busca-O!

        Faze uma pausa na terrível conjuntura em que te encontras e recorda-O.

        Para toda enfermidade, Ele tem a eficiente terapia; para as calamidades destes dias, Ele tem a solução.

         Ama e serve, portanto, como possas, quanto possas, quando possas.

        A Terra sairá do caos que a absorve e voltarão o ar puro, a água cristalina, a relva repousante, o trinar dos pássaros, o fulgor do sol e o faiscar das estrelas em nome do Pai Criador e de Jesus, o Salvador Perene de todos nós.

ANGELIS, Joana de. (Divaldo Franco). Após a tempestade. Salvador, Leal, 1974. p 21-25

segunda-feira, 7 de novembro de 2011


CAPITULO III


KARMA YOGA – O RETO CUMPRIMENTO DA AÇÃO


1. Falou Arjuna, o príncipe pândava, a Krishna, o Senhor Bem-aventurado, dizendo:
“Ó Conferidor do Saber! Disseste-me que o conhecimento é até mais importante do que a ação: se assim é, por que me incitas à ação? Por que queres que eu entre nessa horrível batalha com meus parentes e amigos?

2. Tuas ambíguas palavras me trazem dúvida e me confundem o entendimento. Dize-me, peço-te, em frases claras e certas, qual é o caminho que me conduzirá à Paz e à Satisfação?”

3. Respondeu Krishna, o Divino: “Como já te disse, ó nobre príncipe, há dois caminhos que vão à Perfeição. O primeiro é o caminho do Conhecimento (Sankhya), e o segundo o da Ação (Yoga). Uns preferem o primeiro, e outros, o segundo desses dois caminhos; sabe, porém, que considerados do alto, ambos são um só caminho. Escuta!

4. Engana-se quem pensa que, esquivando-se das ações e persistindo na inatividade, escapa dos resultados da ação. Quem nada começa, não pode entrar no estado de Paz Eterna; a inatividade não conduz à Perfeição. E, na realidade, nem há coisas que se possam designar pela palavra inatividade; pois tudo, no Universo, está em atividade constante, e nada pode subtrair-se à lei geral.

5. Ninguém pode ficar inativo nem um instante; pois as leis de sua natureza o impelem constantemente a fazer alguma coisa, queira ele ou não; o seu corpo ou a sua mente, ou ambos, sempre estão ocupados.

6. Se alguém se assenta para reter e dominar os seus sentidos e os órgãos de atividade, mas, em sua mente, está apegado aos objetos dos sentidos, ilude-se e merece o nome de hipócrita.

7. Porém, é digno de ser chamado sábio e nobre aquele que sujeitou seus sentidos a Deus, pelo amor ardente do Altíssimo, e expressa o seu reto pensar em reta ação; ele cumpre o seu dever, sem esperar recompensas e, ocupando-se de objetos dos sentidos, não se deixa dominar por eles.

8. Faze bem o que te compete fazer no mundo; cumpre bem as tuas tarefas; ocupa-te da obra em que te encontras, para fazê-la o melhor possível: assim será muito bom para ti. Atividade é melhor do que ociosidade. A atividade fortalece a mente e o corpo, e conduz a uma vida longa e normal; a ociosidade enfraquece tanto o corpo como a mente, e conduz a uma vida impotente e anormal, de duração incerta.

9. Os homens estão aferrados a este mundo, porque agem com o fim de obter recompensas e ganho; estão apegados aos objetos de seus desejos, e, por isso, cansam-se na escravidão dos sentidos. Para se libertarem, hão de agir com resignação, movidos pelo puro amor ao Bem. Faze, pois, ó Arjuna! a tua tarefa, para cumprires o dever que o Eu Real te impõe, e não por qualquer outro motivo.

10. Lembras-te das doutrinas antigas que narram a criação do mundo, e as palavras que o Criador disse aos homens que tinha criado? Ouve, t'as repetirei:
“Pela adoração e pelo sacrifício mútuo, crescereis e vos multiplicareis. Pela resignação, obtereis a satisfação de vossos desejos.

11. Lembrai-vos da Fonte de todas as coisas, do Distribuidor dos objetos desejados. Pensai no que é Divino, para que o Divino pense em vós.

12. Se nutrirdes, com o sacrifício de vós mesmos, os deuses, eles vos darão o desejado alimento (espiritual). Quem recebe os dons dos deuses e não lhes mostra a gratidão, é como um ladrão.

13. Os bons homens que retêm para si só aquilo que resta depois de terem oferecido à Divindade tudo o que é divino, são livres de todos os pecados; porém, os maus que querem agir só para si mesmos, vivem em pecado.

14. Todas as criaturas (tanto as espirituais como as materiais) vivem, enquanto se alimentam. O alimento cresce com a chuva. A chuva é mandada pelos deuses em resposta aos desejos, às preces e às súplicas dos homens. Os desejos, as preces e as súplicas dos homens são formas de ações; e as ações procedem da Vida Una que tudo penetra.”

15. Sabe que toda ação tem sua origem em Brama. Brama é a revelação da indivisível Unidade. Por isso, Brama, que tudo penetra, é sempre presente nas tuas ações.

16. É vã e vergonhosa a vida do homem que, vivendo neste mundo de ação, tenta abster-se da ação; quem, gozando o fruto da ação do mundo ativo, não coopera, mas vive em ociosidade. Aquele que, aproveitando a volta da roda, em cada instante de sia vida, não quer pôr mão à roda para ajudar a movê-la, é um parasita e um ladrão que toma, sem dar coisa alguma em troca.

17. Sábio é, porém, aquele que cumpre bem os seus deveres e executa as obras que são para fazer-se no mundo, renunciando a seus frutos e concentrado na ciência do Eu Real.

18. Tal homem, elevado acima dos mundos, não se inquieta por saber se alguma coisa no mundo acontece ou não acontece; achando em si mesmo tudo de que precisa, não tem necessidade de refugiar-se em nenhum ser criado, para nele achar apoio. Participando de tudo e agindo, em tudo, de acordo com os ditames do dever, de nada depende, porque a sua fé, esperança e ciência se fixam no Imperecível, que é o único apoio seguro.

19. Faze, pois, o que deve ser feito; porém, sem egoísmo e sem considerações pessoais. Quem age assim e cumpre o seu dever, livre de motivos egoístas, e sem depender de alguém, caminha, com passos firmes, diretamente à Consciência superior, ao plano espiritual.

20. Janaka e muitos outros atingiram o estado de perfeição por meio de boas obras e reta ação. Trabalha, pois, também tu por amor à humanidade.

21. Quando um nobre homem faz alguma coisa, os outros o imitam; o exemplo que ele dá é seguido pelo povo. Segue, portanto, os melhores de tua raça.

22. Toma-me por exemplo, ó Príncipe. Nada há, no Universo dos Universos, que eu deseje ou que seja necessário que para mim não se faça; nem há coisa alguma atingível que eu não tenha já atingido. E, contudo, estou em constante ação e movimento, agindo sempre e incessantemente.

23. Os homens, ó Arjuna, seguem sempre o meu exemplo; por isso, se eu deixasse de ser ativo, esses Universos cairiam em ruína.

24. Se eu não agisse, começaria a reinar uma confusão universal, e a minha inatividade seria a causa da destruição do gênero humano.

25. Como os que carecem ainda da Luz Espiritual fazem esforços para alcançar o que desejam, sendo a esperança de recompensa o estímulo de suas ações; assim deve o homem desenvolvido e iluminado agir abnegadamente, pela causa do bem comum e conforme a Lei Universal.

26. Mas não deves confundir, em estas ideias, as cabeças dos homens inexperientes, cujo coração ainda está apegado às obras. Deixa-os fazer o melhor que podem; mas tu e os outros sábios devem agir em harmonia comigo, animando os outros à atividade, e dando-lhes o exemplo.

27. Toda a atividade e todas as ações provêm dos movimentos das forças da Natureza. O insensato, que é iludido pela presunção e vaidade, pensa que ele é o ator e diz: “Eu faço isto – eu fiz aquilo”.

28. Mas quem conhece a verdade, sorri, porque detrás da personalidade, enxerga a fonte real da ação, a causa e o efeito.

29. Entretanto, os que conhecem a verdade inteira, devem acautelar-se para não ofuscarem com ela o fraco entendimento daqueles que ainda não estão preparados para conhecê-la, porque as doutrinas prematuras poderiam confundir e desviar estes da sua atividade.

30. Tu, porém, ó Arjuna, liberta-te de todos os teus cuidados, de todo o medo e, igualmente, do egoísmo e das esperanças pessoais; em Meu nome (Krishna), faze tudo o que hás de fazer, concentrando todos os teus pensamentos no Altíssimo!

31. Os homens que, cheios de fé e confiança, seguirem estes meus ensinos e não tiverem dúvidas, alcançarão a liberdade também pelas obras e ações.

32. Porém, aqueles que rejeitam os ensinos da Verdade e agem contra eles, são insensatos e iludidos, e caem em confusão e inquietações.

33. Cada ser age em conformidade com a sua natureza; também o sábio procura o que se harmoniza com a sua própria natureza, de acordo com aquilo que é o mais alto do seu caráter.

34. Ninguém pode escapar às leis naturais. Os objetos sensuais são os senhores dos sentidos, e atraem ou repelem o coração dos homens, enchendo-o de afeição ou de aversão. Não te deixes dominar por nenhuma destas duas forças, porque ambas são obstáculos no caminho e o sábio as subjuga ambas.

35. Finalmente, lembra-te que é melhor cumprir a própria tarefa, ainda que seja humilde e insignificante, do que querer fazer a tarefa de um outro, por mais nobre e excelente que seja. É melhor morrer no cumprimento do seu dever, do que viver negligenciando-o e querendo fazer o que a outros compete fazer.”

36. Pergunta Arjuna: “Mas dize, ó Senhor, que força misteriosa é essa que, muitas vezes, parece obrigar o homem a praticar o mal, até contra a sua própria vontade?”

37. Explica Krishna: “Essa tentação, ó príncipe, é a essência dos desejos que o homem para si acumulou (Kâma). Ela é o seu maior inimigo, e chama-se Paixão; nasce da natureza carnal, cheia de pecado e erro, e ataca o homem para o consumir.

38. Como a fumaça envolve a chama, a ferrugem o metal, o útero a criança para nascer: assim o mundo é envolvido por este inimigo, chamado Desejo.

39. O Desejo impede o verdadeiro saber; ele é como um fogo devorador, difícil de extinguir-se.

40. Os sentidos e a mente são a sua sede; e, por meio deles, confunde o discernimento e obscurece o conhecimento da verdade.

41. Antes de tudo, deves, portanto, vencer esse inimigo de tua alma. Domina os teus sentidos e seus órgãos, e afugenta de ti esse gerador do mal.

42. Os sentidos são grandes e poderosos; porém, maior e mais poderosa é a mente; maior do que esta é a Razão, e o mais forte é o Eu Real, a Luz da Divindade (Âtmâ).

43. Reconhecendo, pois, o Eu Real como o Senhor mais poderoso, domina pelo seu poder o eu pessoal, e assim subjuga o monstro de desejo: esta tarefa é difícil, mas não é impossível. Combate o desejo, domina-o pela força da Luz Divina do Eu Real; não o deixes ser teu Senhor, mas reduze-o a ser teu escravo!”

BHAGAVAD GITA, São Paulo, Pensamento, 1993. p 43-53.