terça-feira, 1 de novembro de 2011

Os benefícios da generosidade


      Iniciei essa visita à Austrália e Nova Zelândia há cerca de duas semanas e, amanhã cedo, retornarei à Índia. A própria natureza do tempo o faz movimentar-se ininterruptamente, nenhuma força pode controlá-lo ou pará-lo; o importante é saber se fazemos bom uso dele. Não me refiro apenas a como passamos o dia ou se saímos mais de férias, vamos a piqueniques ou a clubes noturnos. Eu me refiro a usar o tempo, se possível, para nos ajudar a partilhar os problemas uns dos outros. Se vivemos com responsabilidade, poderemos dar significado à vida.

      Geralmente o ser humano tem uma expectativa de vida de cerca de cem anos, e a nossa própria existência neste planeta não foi planejada para criar sofrimento para as outras pessoas. Acho que partilhar a vida e a felicidade com um grande sorriso, um coração generoso e amizade é uma maneira adequada para atingir o propósito de nossa existência. Criar sofrimento e mágoa para os outros acabará por causar dor e mágoa para nós mesmos, de modo que ajudar os outros é realmente a melhor forma de atingir um profundo sentimento de satisfação interior.

      Não tenho nada de especial para lhes dizer aqui, além de contar minhas próprias experiências que têm me mostrado que viver com mais generosidade é a verdadeira base para a felicidade. Assim sendo, gostaria de motivá-los a pensar mais sobre os valores espirituais interiores e aprenderem a ser generosos. Há muitos benefícios para quem preza os valores espirituais interiores: o primeiro, todos se preocupam com a saúde. A generosidade propicia maior equilíbrio aos elementos físicos do corpo ao reduzir o medo e a ansiedade. Tal redução nos ajuda a desenvolver a autoconfiança e um senso de segurança, o que também cria mais equilíbrio no corpo físico.

      Quando meus amigos constatam que minha saúde física está muito boa, muitas vezes perguntam qual é o meu segredo. Eu lhes digo: “Não há segredo algum, nada de especial”. Geralmente, minha rotina diária pode ser mais tranquila e regular do que a da maioria das pessoas, e esse pode ser um fator importante. Mas ainda mais significativo parece ser meu estado mental, que permanece bastante calmo, apesar de algumas dificuldades, eventos trágicos ou, até mesmo, uma doença ou dor.

      Temos um ditado sobre como receber notícias trágicas: “Se notícias indesejáveis ou tristes atingem um ouvido, deixe-as sair pelo outro”. Em outras palavras, tentamos não permitir que elas permaneçam em nossa mente, onde apenas causarão mais preocupações. Em meu caso, quando uma experiência ou pensamento desagradável atinge minha mente como uma onda, debaixo dela – como o oceano estável que se encontra embaixo – minha mente principal permanece basicamente tranquila. Acho que esse pode ser um dos fatores que contribuem para a minha boa saúde. Tendo dito isso, talvez vocês renham percebido que tenho alguns pelos nas sobrancelhas e que apareceram nos últimos cinco anos; isso mostra que a idade está provocando algumas mudanças no meu corpo.

DALAI LAMA. Iluminando o caminho. São Paulo, Pensamento, 2005, p142-3.

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