sábado, 5 de novembro de 2011


III FÍSICA


      […] Há também mundos infinitos, ou semelhantes a este ou diferentes. Com efeito, sendo os átomos infinitos em número, como já se demonstrou, são levados aos espaços mais distantes. Realmente, tais átomos, dos quais pode surgir ou formar-se um mundo, não se esgotam nem em um nem num número limitado de mundos, quer sejam semelhantes quer sejam diversos destes. Por isso nada impede a infinidade dos mundos.

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      É necessário crer que os mundos e toda combinação finita nascem do infinito.

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      Todos se dissolvem de novo, alguns mais lentamente e outros mais rapidamente, sofrendo um umas ações e outros outras.

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      E semelhante mundo pode nascer num mundo ou num intermundo (assim chamamos a um intervalo entre os mundos), num espaço que contenha muito vazio — mas não no grande espaço puro e vazio, como dizem alguns —, afluindo a ele princípios aptos de um mundo ou intermundo, de um só ou de vários, fazendo, pouco a pouco, acumulações, conexões e transposições a outro lugar, se assim sucede, e afluência de núcleos aptos até lograr o seu acabamento e a detenção do seu crescimento.

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      A alma é corpórea, composta de partículas sutis, difusa por toda a estrutura corporal, muito semelhante a um sopro que contenha uma mistura, de calor, semelhante um pouco a um e um pouco a outro, e também muito diferente deles pela sutileza das partículas, e também por este lado capaz de sentir-se mais em harmonia com o resto do organismo. Tudo isto manifestam as faculdades da alma, os afetos, os movimentos fáceis e os processos mentais, privados dos quais morremos. E é necessário admitir que a alma leva em si causa principal das sensações, mas certamente estas se não produziriam se de algum modo não estivessem contidas no resto do organismo. E o resto do organismo, tendo preparado esta capacidade causal, participa ele próprio, por meio dela, de semelhante condição, mas não de todas as condições que ela adquire: por isso, quando a alma se separa do corpo, este perde a sensibilidade. Efetivamente não tinha em si esta faculdade, mas preparava-a para a outra, nascida juntamente com ele, a qual, posteriormente, pela faculdade nela desenvolvida por meio do movimento, desenvolvendo imediatamente para si a condição da sensibilidade, dava participação ao corpo, por contato e correspondência, como já disse. É por isso que a alma, enquanto permanece no corpo, nunca pode perder a sensibilidade, mesmo se desaparece alguma parte do corpo, enquanto persiste uma excitação à sensação, mesmo se desaparece também alguma faculdade da alma em virtude de uma destruição do corpo, quer no seu todo quer nas suas partes. O corpo, pelo contrário, mesmo que fique intato, quer no seu todo quer nas suas partes, deixa de possuir sensibilidade quando dele se afastou o princípio que retém unida a multidão dos átomos que constituem a natureza da alma. É, também, no entanto, verdadeiro dizer-se que, logo que se dissolve inteiramente o corpo, a alma se dissipa, e disseminada perde a sua força e os seus movimentos, de tal modo que também ela se torna insensível.

EPICURO (Os Pensadores). São Paulo: Nova Cultural, 1988 p. 16-7

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