domingo, 16 de junho de 2013




      “Narra-se, e tornou-se muito conhecida com variações, embora com o mesmo conteúdo, a história de um monge budista que rumava na direção do monastério acompanhado por alguns dos seus discípulos, quando, passando por uma ponte, viram um escorpião que estava sendo arrastado pela correnteza na qual se debatia, afogando-se.
 
      O monge, apiedado, correu pela margem do rio, introduziu a mão na água e retirou-o da morte certa.

      Alegre por havê-lo salvado da situação, quando o trazia para o solo, o escorpião picou-o, produzindo-lhe uma grande dor, que o fez derrubá-lo novamente nas águas...


      Nesse momento, o monge correu e, tomando um pedaço de madeira, novamente se adentrou nas águas e retirou-o, salvando-o.


      Retomou ao caminho em silêncio após o seu gesto nobre, quando um dos discípulos, surpreendido pela ocorrência, indagou-o:


      - Mestre, penso que o senhor não se encontra bem. A sua tentativa de salvar esse aracnídeo nojento e perverso, que lhe agradeceu o gesto nobre com uma picada dolorosa, redundando inútil e perniciosa para o senhor. Não seria natural que o deixasse morrer, ao invés de intentar por segunda vez salvá-lo, correndo novamente o mesmo risco?


      O monge escutou com suave sorriso na face e respondeu com bondade:


      - Ele agiu conforme a sua natureza, enquanto eu procedi conforme a minha. Ele agiu por instinto, defendendo-se a agressão, e eu agi de acordo com meu sentimento de amor por tudo e por todos...” (Psicologia da Gratidão, Joanna de Ângelis / Divaldo Pereira Franco, p. 138-9)