domingo, 22 de julho de 2012


CONHECIMENTO DE SI MESMO





        919 – Qual é o meio mais prático e mais eficaz para se melhorar nesta vida, e resistir aos arrastamentos do mal?


        - Um sábio da antiguidade vos disse: Conhece-te a ti mesmo.
         - Compreendemos toda sabedoria desta máxima, porém, a dificuldade está precisamente em se conhecer a si mesmo; qual é o meio de o conseguir?


          - Fazei o que eu fazia de minha vida sobre a Terra: ao fim da jornada, eu interrogava minha consciência, passava em revista o que havia feito, e me perguntava se não havia faltado a algum dever, se ninguém tinha nada a se lamentar de mim. Foi assim que consegui me conhecer e ver o que havia para reformar em mim. Aquele que, cada noite, lembrasse de todas as ações da jornada e se perguntasse o que fez de bem ou de mal, pedindo a Deus e ao seu anjo guardião para o esclarecer, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Questionai, portanto, e perguntai-vos o que haveis feito e com qual objetivo haveis agido em tal circunstância; se haveis feito alguma coisa que censurais em outrem; se haveis feito uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai-vos ainda isso: se aprouvesse a Deus me chamar neste momento, reentrando no mundo dos Espíritos, onde nada é oculto, eu teria o que temer diante de alguém? Examinai o que podeis ter feito contra Deus, contra vosso próximo, e enfim, contra vós mesmos. As respostas serão um repouso para vossa consciência ou a indicação de um mal que é preciso curar.



          O conhecimento de si mesmo, portanto, é a chave do progresso individual. Mas, direis, como se julgar? Não se tem a ilusão do amor-próprio que ameniza as faltas e as desculpa? O avarento se crê simplesmente econômico e previdente; o orgulhoso crê não haver senão dignidade. Isso é verdade, mas tendes um meio de controle que não vos pode enganar. Quando estiverdes indeciso sobre o valor de uma de vossas ações, perguntai-vos como a qualificaríeis se fosse fosse feita por outra pessoa; se censurais em outrem, ela não poderia ser mais legítima em vós, porque Deus não tem duas medidas para a justiça. Procurai saber, também, o que pensam os outros a vosso respeito, e não negligenciais a opinião de vossos inimigos, porque estes não têm nenhum interesse em dissimular a verdade e, frequentemente, Deus os coloca ao vosso lado como um espelho para vos advertir com mais franqueza que o faria um amigo. Que aquele que tem vontade séria de se melhorar explore, pois, sua consciência, a fim de arrancar dela as más tendências, como arranca as más ervas de seu jardim; que faça o balanço de sua jornada moral, como o mercador faz de suas perdas e lucros, e eu vos asseguro que a um lhe resultará mais que a outro. Se ele puder dizer que sua jornada foi boa, pode dormir em paz, e esperar sem receio o despertar de uma outra vida.



        Colocai, pois, questões claras e precisas e não temais de as multiplicar: pode-se dar alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna.



        Não trabalhais todos os dias com o objetivo de amontoar o que vos dê repouso na velhice? Esse repouso não é objeto de todos os vossos desejos, o alvo que vos faz suportar as fadigas e as privações momentâneas? Pois bem! O que é esse repouso de alguns dias, perturbado pelas enfermidades do corpo, ao lado daquele que espera o homem de bem? Isso não vale a pena de fazer algum esforço? Sei que muitos dizem que o presente é positivo e o futuro incerto; ora, eis aí precisamente o pensamento que estamos encarregados de destruir em vós, porque desejamos vos fazer compreender esse futuro de maneira que ele não possa deixar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso, primeiro chamamos vossa atenção para os fenômenos de natureza a impressionar vossos sentidos, depois vos demos instruções que cada um de vós se acha encarregado de divulgar. Foi com esse objetivo que ditamos o Livro dos Espíritos.



SANTO AGOSTINHO



        Muitas faltas que cometemos passas despercebidas para nós. Se, com efeito, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais frequentemente nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem o perceber, por falta de perscrutar a natureza e o móvel de nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais precisa do que uma máxima que, frequentemente, não aplicamos a nós mesmos. Ela exige respostas categóricas, por um sim ou por um não, que não deixam alternativa; são igualmente argumentos pessoais e pela soma das respostas pode-se calcular a soma do bem e do mal que está em nós.

      Questão 919 de O Livro dos Espíritos

sábado, 21 de julho de 2012


CHICO XAVIER - O HOMEM INTEGRAL



Na questão 625 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec faz a seguinte interrogação: “Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?”  Os Benfeitores Espirituais respondem da seguinte forma: “Jesus”. Esta é a resposta mais curta de todo o livro, no entanto, talvez seja uma das mais significativas.

Inspirada nessa questão, Joanna de Ângelis elaborou o conceito de Homem Integral, referindo-se ao indivíduo amadurecido espiritualmente, isto é, o que já conduziu as suas potencialidades a um estado de plenitude, de completo desenvolvimento (possível nesse planeta ou em nossa faixa evolutiva). Nesse sentido, o melhor paradigma é, sem sombra de dúvidas,  Jesus.

             Para Joanna de Ângelis e para  os demais Espíritos Superiores, cada um de nós pode e deve se esforçar para atingir a condição de plenitude simbolizada por Jesus, respeitando, evidentemente, os limites pessoais, que assinalam na individualidade o momento evolutivo em que a mesma se encontra. A proposta não é tornar-se Jesus, é adotá-lo como parâmetro para nossa existência, considerando os seus ensinos e exemplos.

Ao longo do século XX, que foi um dos mais conturbados da História, um grande número de pessoas demonstrou a viabilidade de se viver de acordo com o ideal evangélico, caracterizado pelo amor, pela doação, pela entrega de si mesmo ao outro, pelo desprendimento... Uma dessas pessoas, inegavelmente, foi Chico Xavier.

Suportando a pobreza, a orfandade, os maus-tratos em sua infância, os ataques e acusações indébitas, os sofrimentos ao longo de toda a vida, Chico Xavier demonstrou que, mesmo nas circunstâncias mais adversas, é possível apresentar um comportamento superior, identificado com a psicologia presente no Evangelho. Soube perdoar, servir e amar de forma surpreendente...

O maior fenômeno em Chico Xavier não foi a sua mediunidade, mas a capacidade que teve de materializar em sua vida as diretrizes centrais do Evangelho.

Num mundo tomado pelo ódio, como conceber um homem que tenha sido capaz de amar tanto como ele amou?!

Num mundo dividido pela guerra, como explicar um homem que abraçou a bandeira da paz, vivendo-a no seu dia-a-dia, nas relações com os demais?!

Num mundo esmagado pelo egoísmo, como entender um homem que abriu mão de si mesmo para doar-se por completo aos seus semelhantes?!

Num mundo onde predomina a maldade, como decifrar um homem que manteve a fidelidade ao bem?!

Num mundo em que imperam as paixões mais diversas, como compreender um homem indene a qualquer viciação, ostentando as mais nobres virtudes?!

Eis o grande fenômeno de Chico Xavier....
              Viver em nossos dias, tão difíceis para todos, do mesmo modo que Jesus viveu!

As faculdades psíquicas e mediúnicas de Chico Xavier, sem contradita, foram notáveis pelo número e grau em que se manifestaram. Todavia, elas acabam obscurecendo o seu exemplo evangélico, o tipo de homem que ele foi, que é o que deveria chamar a atenção de todos nós.

Assim como muitos procuram no Espiritismo apenas os fenômenos, muitos veem em Chico Xavier apenas o médium, não considerando a mensagem profunda que a sua vida encerra.

Este ano (2010), ao se comemorar o primeiro centenário do seu nascimento, todos estão conhecendo o fenômeno Chico Xavier, o homem que via e falava com os mortos, ignorando, porém, o homem por trás do fenômeno.

Em Chico Xavier, como em outras pessoas da atualidade, cabe perfeitamente o conceito proposto por Joanna de Ângelis, o Homem Integral, pois ao desenvolver os seus valores íntimos, colocou-os a serviço dos semelhantes, tornando-se um protótipo do homem de amanhã.

            Que um dia, lá no distante futuro, possamos ser ao menos um pouquinho parecidos com o que Chico Xavier foi...
         STEIGLEDER, CARLOS G. Falando sobre Espiritismo, Sapiranga, Ed. A., 2010. p 67-72.

sábado, 14 de julho de 2012


CONSCIÊNCIA DE CULPA


      Os atos praticados durante a existência física insculpem-se de tal forma nos painéis mentais do espírito, que permanecem vigorosos mesmo depois do fenômeno orgânico da desencarnação.

      Naturalmente aqueles que mais geraram aflição predominam com mair rigor, impondo comportamentos perturbadores que, não raro, transferem-se de uma para outra existência, responsabilizando-se por distúrbios de diferentes matizes.

      Antes, porém, de seres repassados às futuras existências carnais, continuam vivos em imagens dolorosas na memória dos desencarnados, que não se deram conta do traspasse, mantendo-se em deplorável situação de aparente permanência no corpo.

      Repetem-se-lhes as imagens infelizes, num caleidoscópio sombrio, mantendo a confusão mental em decorrência da gravidade de que se revestiram.

      Permanecem, neste estado, por demorado período, aqueles que se comprometeram, até quando a Misericórdia Divina os desperta para novas condições de consciência.

      Se foram vítimas, não havendo sido responsáveis pela ocorrência lamentável, de menor duração é a perda do discernimento, porque, mesmo nesse caso, os impositivos da Justiça Soberana manifestam-se, convocando o antigo infrator ao ajustamento, ao equilíbrio de que se afastara pela prática de hostilidades e crimes vergonhosos.

      Quando, no entanto, são responsáveis, em face de conduta irregular que atrai outros companheiros moralmente semelhantes, o que resulta dessa convivência infeliz é mais grave, pela opção elegida, geradora da incúria em que se movimentavam.

      De qualquer forma, porém, a consciência de culpa resuma nos refolhos da memória, embora não identificando o fator causal responsável pela insegurança e sofrimento.

      Esse transtorno psicológico, portanto, tem sempre as suas raízes fincadas nas atitudes reprocháveis que o espírito se permitiu e das quais não conseguiu libertar-se, porque tem conhecimento de que as não deveria ter praticado.

      Dessa forma, quando na Erraticidade, padece os conflitos que acumulou após a prática do ato perverso e não se facultou reabilitação moral, através da reparação junto ao ofendido ou em relação à sociedade que poderia auxiliar no seu processo de evolução espiritual.

       Interiormente reconhece a justeza do sofrimento, inconscientemente sabendo que constitui instrumento de elevação. Equivoca-se, porém, na interpretação dos seus resultados, porquanto, a necessidade da reeducação não exige uma conduta de entrega inerme à dor, da qual não resultem benefícios e propostas de elevação moral.

      Sofrer pelo simples fato de sofrer torna-se fenômeno inócuo no processo de crescimento espiritual.

      Todo sofrimento deve fazer-se acompanhar de resultados opimos, aqueles que amadurecem o ser, que lhe ampliam os horizontes do entendimento, proporcionando serviço edificante, processo eficaz para contribuição em favor da humanidade que prossegue carente de entendimento, afeto e ajuda para o seu desenvolvimento ético e moral.

      O espírito cresce interiormente iluminando a consciência com as diretrizes do dever que lhe constitui o estímulo para desenvolver as aptidões internas, remanescentes das concessões do Criador, e que lhe cumpre vivenciar, a fim de que se lhe fixem como mecanismo de evolução.

      Dessa maneira, a culpa é uma presença que deve ser removida logo seja possível, a fim de que não se responsabilize por danos emocionais que devem ser evitados.

      À semelhança de um espinho cravado nas carnes da alma, exerce uma função de advertência, ao invés de uma presença punitiva, de forma que se desincumbindo do mister a que se destina, seja retirada da consciência, que se deve abrir à alegria da recuperação mental, colocando-se a serviço das aquisições de novas bênçãos.

      Tanto se pode proceder terapeuticamente em relação à sua libertação, durante a estância no mundo espiritual, pelo programar de novos compromissos edificantes e através do esforço em favor da correção da conduta, o que proporciona esperança e alegria, como transferir para as próximas reencarnações, quando se apresentará perturbadora em forma de conflito de mais difícil remoção.

     Tendo-se em vista que a vida é espiritual, cabe a todos o dever de autoconscientização de que, operando a partir do mundo causal em direção ao terreno, torna-se mais exequível a produção de valores saudáveis do que no sentido inverso.

      Desse modo, a educação dos espíritos desencarnados, conforme ocorre nas Esferas em que habitam, assim como através do intercâmbio valioso nas reuniões mediúnicas, é de valor inestimável pelos resultados obtidos.

     Esclarecidos a respeito das ocorrências inditosas e dos meios que se encontram ao alcance para o depuramento, toda uma programação bem elaborada é colocada a serviço da reabilitação pessoal, diminuindo a ocorrência de gravames afligentes no decurso da existência carnal.

      Nesse capítulo, ainda outro benefício se pode auferir, que é o de evitar mecanismos obsessivos, que resultariam da insidiosa presença da vítima que encontraria as tomadas morais na culpa, aplicando os plugues do ressentimento, da ira, do desforço a que invariavelmente se entregam os infelizes.

     Terapeuticamente, é um processo preventivo, libertador de mazelas, auxiliando o deambulante carnal no crescimento mediante conquistas e realizações edificantes, ao invés do cárcere sem grades dos resgates mais difíceis que terá de enfrentar...

      À medida que o espírito se depura, mais se lhe acentuam os conceitos morais e sociais, exigindo cuidados especiais na área do comportamento, a fim de serem evitados esses transtornos do arrependimento, em forma de culpa, da amargura, como efeito da ação perpetrada e de que agora se dá conta a respeito da sua inutilidade, tendo em vista as excelentes maneiras de avançar, gerando felicidade.

      Tornando-se mais exigente com a própria conduta, nessa fase é possível amar incondicionalmente, servir sem expectativa de retribuição, doar-se de maneira natural, sem que isso constitua sacrifício, enfim, ser útil em todas as circunstâncias do processo humano em o qual se encontra colocado.

      Embora a presença da culpa na consciência seja convite à recuperação moral e reeducativa do infrator, lamentavelmente tipifica estágio inferior em que o espírito transita, em face das concessões que se permite nos contínuos compromissos inditosos.

      Dia virá, na sociedade terrestre, em que a consciência de culpa será substituída pela consciência do dever, mediante cuja claridade será mais fácil a utilização dos instrumentos ao alcance para o processo de renovação interior, trabalhando em favor daqueles que foram prejudicados e contribuindo para a edificação de uma sociedade, uma cultura nobre, bem como de relacionamentos mais saudáveis.

      O tempo, portanto, que vige entre o erro w a sua recuperação está determinado pelo esforço do infrator que se conscientiza, assumindo a responsabilidade de mudança pessoal em relação a si mesmo e à vida.

      Os ponteiros do relógio das oportunidades sempre volvem aos mesmos lugares, porém, em circunstância e tempo diferentes, razão porque sempre devem ser utilizados os momentos que se fazem propícios para agir-se com acerto, equidade e respeito pelos demais.

      Evitar-se, pois, a presença da culpa na consciência é dever que a todos cumpre considerar, desde que não faltam serviços reparadores, oportunidades de procedimentos compatíveis com as leis estabelecidas e os Códigos Divinos vigentes no Universo.

      A disposição consciente para a recuperação pessoal é o primeiro passo para a libertação do conflito que se pretende estabelecer nos painéis mentais, gerando transtorno nas paisagens comportamentais.

      De grande significação terapêutica o ensinamento de Jesus, quando propõe àquele que se encontra em débito com o seu próximo, conclamando-o a que vá fazer as pazes com ele, antes de depositar a sua oferenda no altar, porque é mais importante a conquista do equilíbrio interior e da consciência de harmonia, do que a exaltação ao Senhor da vida, sem respeito pela sua criação, particularmente em relação àquele que é o seu irmão...

      Solicitar desculpas quando se erra, identificar o equívoco e reabilitar-se com naturalidade, contribuir em favor dos ideais de desenvolvimento da sociedade, trabalhar em cooperação com as obras edificantes, tornam-se recursos valiosos para a liberação da culpa decorrente dos processos equivocados que todos vivenciam durante a jornada carnal.

      Ninguém, à exceção de Jesus, consegue o êxito total no empreendimento da evolução, sem viver os diferentes estágios do erro e da correção, do crime e da reabilitação, em face das heranças que permanecem no ser que transitou pelas faixas primárias, que se caracterizam pela supremacia do instinto, do impositivo da cadeia alimentar que impõe a morte de umas em benefício de outras espécies.

      O leão que pretende dominar o grupo mata os filhotes da fêmea que pretende submeter porque não lhe pertencem, passando, então, a procriar os seus próprios, de forma a dar continuidade à espécie.

      Essa predominância da ferocidade transfere-se de uma para outra fase durante a cadeia de desenvolvimento antropológico, atingindo o período hominal com terríveis impulsos de destruir aquilo que não lhe pertence...

      Da mesma forma, quando a fera lambe o descendente em carícia não consciente, pode-se identificar a futura mãezinha osculando o filho do futuro. Nesse treinamento que exige incontáveis experiências evolutivas, o germe do amor está desenvolvendo-se e aprimorando-se até alcançar o patamar elevado de beijar os filhos de todas as mães, sem discriminação ou preferência.

      A consciência de culpa, portanto, tendo atendida a sua finalidade, dilui-se e transforma-se na alegria de o indivíduo reeducar-se e viver plenamente conforme os deveres que abraça, na sociedade em que se encontra colocado para evoluir.


MIRANDA, Manoel P. Reencontro com a vida. Salvador, Leal, 2006. p 183-8.