AUMENTO
DA VIVÊNCIA EXISTENCIAL
Uma
segunda característica do processo que representa para mim a “vida
boa” é que ela implica uma tendência crescente para viver
plenamente cada momento. Esta ideia pode ser facilmente mal-entendida
e talvez seja até um pouco vaga no meu próprio espírito. Vejamos
se consigo exprimir o que quero dizer.
Julgo
ser evidente que uma pessoa que estivesse plenamente aberta a cada
experiência nova, completamente desprovida de uma atitude defensiva,
viveria cada momento da sua vida como novo. A configuração complexa
de estímulos internos e externos que existe num determinado momento
nunca antes existira exatamente da mesma maneira. Por conseguinte,
essa pessoa compreenderia que “aquilo que eu vou ser no próximo
momento e aquilo que eu vou fazer nasce desse momento e não pode ser
previsto de antemão nem por mim nem pelos outros”. Não é raro
encontrar clientes que exprimem precisamente esse tipo de sentimento.
Uma
forma de exprimir a fluidez que está presente numa tal vivência
existencial é dizer que o eu e a personalidade emergem da
experiência, em vez de dizer que a experiência foi traduzida ou
deformada para se ajustar a uma estrutura preconcebida do eu. Isso
quer dizer que uma pessoa se torna um participante e um observador do
processo em curso da experiência organísmica, em ver de
controlá-lo.
Esse
viver o momento significa uma ausência de rigidez, de organização
estreita, de imposição de uma estrutura à experiência. Significa,
pelo contrário, um máximo de adaptabilidade, uma descoberta da
estrutura na
experiência, uma organização fluente, mutável, do eu e da
personalidade.
É
essa tendência para uma vivência existencial que a mim se revela de
uma forma bem patente nas pessoas envolvidas no processo da “vida
boa”. Poder-se-ia quase dizer que é a sua característica mais
importante. Ela implica a descoberta da estrutura da experiência no
processo de viver essa experiência.
A maior parte de nós, por outro
lado, aplica à experiência uma estrutura e uma avaliação
pré-formada, e nunca as abandona, comprimindo e deformando a
experiência para adaptá-la às nossas ideias preconcebidas,
irritando-se com os aspectos fluidos que a tornam tão difícil de
adaptar aos nossos escaninhos cuidadosamente construídos. Abrir o
espírito para aquilo que está acontecendo agora,
e descobrir nesse processo presente qualquer estrutura que se
apresente – tal é, na minha opinião, uma das qualidade da “vida
boa”, da vida amadurecida, como a que vejo os clientes alcançarem.
ROGERS,
Carl R. Tornar-se pessoal. 6ª ed. São Paulo, Martins Fontes, 2009.
p 215-6.
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