SEGUNDA CONFERÊNCIA - OUSPENSKI
Como
já disse, existem quatro estados de consciência possíveis para o
homem: o “sono”, a “consciência de vigília”, a “consciência
de si” e a “consciência objetiva”, mas o homem vive apenas em
dois desses estados, em parte no sono e em parte no que às vezes se
denomina de “consciência de vigília”; é como se possuísse uma
casa de quatro andares, mas só vivesse nos andares inferiores.

O
segundo grau de consciência aparece quando o homem desperta. Este
segundo estado, o estado em que nos encontramos neste momento, quer
dizer, no qual trabalhamos, falamos, imaginamos que somos seres
conscientes, denominamo-lo frequentemente de “consciência lúcida”
ou “consciência desperta”, quando na realidade deveria ser
chamado “sono desperto” ou “consciência relativa”. [...]
Aqui
é preciso compreender que o primeiro estado de consciência, o sono,
não se dissipa quando aparece o segundo estado, isto é, quando o
homem desperta. O sono permanece, com todos os seus sonhos e
impressões; só que para a pessoa, ao sono, se acrescenta uma
atitude crítica para com suas próprias impressões, pensamentos
mais bem coordenados e ações mais disciplinadas. E, em decorrência
da vivacidade das impressões sensoriais, dos desejos e dos
sentimentos – em particular do sentimento de contradição
ou de impossibilidade,
cuja ausência é total no sono -, os sonhos tornam-se invisíveis,
tal como a lua e as estrelas tornam-se invisíveis à claridade do
sol. Porém, todos estão presentes e frequentemente exercem sobre o
conjunto dos nossos pensamentos, sentimentos e ações, uma
influência cuja força supera, às vezes, a das percepções reais
do momento. A
esse respeito devo dizer que não me refiro aqui ao que, na
psicologia moderna, se chama “subconsciente” ou “pensamento
subconsciente”. […]
Esses
dois estados, o sono e o sono desperto, são os dois únicos estados
em que vive o homem. Além deles, o homem poderá conhecer dois
outros estados de consciência, mas estes só lhe são acessíveis
depois de dura e prolongada luta.
Esses
dois estados superiores de consciência são denominados de
“consciência de si” e “consciência objetiva”.
Admite-se geralmente que possuímos a consciência de si, que somos conscientes de nós mesmos no instante que desejarmos; mas, na realidade, a “consciência de si” é um estado que nós nos atribuímos sem o menor direito. Quanto à “consciência objetiva”, é um estado do qual nada sabemos.
Admite-se geralmente que possuímos a consciência de si, que somos conscientes de nós mesmos no instante que desejarmos; mas, na realidade, a “consciência de si” é um estado que nós nos atribuímos sem o menor direito. Quanto à “consciência objetiva”, é um estado do qual nada sabemos.
A
consciência de si é um estado no qual o homem se torna objetivo em
relação a si mesmo e a consciência objetiva é um estado no qual
ele entra em contato com o mundo real ou objetivo, do qual está
atualmente separado pelos sentidos, pelos sonhos e pelos estados
subjetivos de consciência.” […]
Na
realidade, a aquisição da consciência de si supõe um trabalho
árduo e prolongado. Como poderia um homem submeter-se a tal
trabalho, se pensa já possuir a própria coisa que lhe prometem como
resultado de um trabalho árduo e prolongado? Naturalmente, o homem
não empreenderá esse trabalho e não o considerará uma
necessidade, enquanto não tiver adquirido a convicção de que não
possui nem a
consciência de si, nem
tudo o que com ela se relaciona, isto é, a unidade ou a
individualidade, o “Eu” permanente e a vontade.
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