quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O QUE DIZER DOS TRABALHOS
DE PSICOGRAFIA, ATUALMENTE?


          PERGUNTA:
          Em razão do destaque que a mídia tem dado ao Espiritismo: filmes como Chico Xavier, Nosso Lar, Cartas de Chico Xavier, têm havido, na nossa Federação, quem sabe como nas demais, muitos e-mails pedindo onde se pode localizar um Centro onde se consiga uma psicografia. Infelizmente há Centros Espíritas que estão criando trabalhos nesse sentido, para atender ao público que vai lá e precisa de uma psicografia. Gostaria da sua opinião sobre isto.

          DIVALDO:
          Contou-nos Chico, pessoalmente, que durante muito tempo ele exerceu a mediunidade com Jesus através das mensagens, quando então Emmanuel começou o período do romance, aprimorando-lhe a capacidade de registro do Mundo Espiritual, porque os romances de Chico Xavier são tão notáveis que fi escrito um livro por um historiador, confirmando geograficamente todas as situações; sociologicamente, os hábitos da época. Mereceu de um grande estudioso fazer uma análise dos dados fornecidos por Emmanuel.


          Portanto, a mediunidade de romance é um grande desafio, porquanto os dados são transmitidos diretamente pela faculdade sonambúlica, evitando qualquer interferência dos registros do inconsciente pessoal do médium. Então, foi uma fase que ele exerceu muito bem. Quando Emmanuel prometeu aos amigos em Pedro Leopoldo falar a seu respeito em uma encarnação anterior, e vem Há 2000 anos.

          Depois dessa fase, ele vai para a revelação do Mundo Espiritual, e André Luiz apresenta-se como o grande revelador desse mundo transcendente de onde viemos, do qual nos esquecemos e para onde retornamos. Foi uma fase de grandes provas, porque as Entidades perversas que se homiziam na denominada erraticidade inferior, compraziam-se em ocultar isso das criaturas humanas, para rurpreendê-las, levá-las para os seus resgates dolorosos e exercerem a vingança em razão de seus débitos ancestrais.

          Mas ele suportou aquele período de difamações. Foi o período difícil, com a família de Humberto de Campos; foram os testemunhos na família pessoal; as grandes dores morais, como ele vai um dia falar sobre privilégios. Quando alguém disse que ele era um homem privilegiado, ele começa a relatar se é um privilégio perder a mãe aos 4 anos de idade, e vai relatando todo o calvário que ele suporta sorrindo, sem desanimar.

          Vem a fase André Luiz. André Luiz culmina com as obras científicas, através dele e do Waldo Vieira, na chamada correspondência cruzada: um numa cidade, o outro em outra cidade; um recebe o capítulo par, o outro o capítulo ímpar, provando a legitimidade do fenômeno mediúnico. Quando termina essa fase, aí começa o correio do além.

           Somente quando ele estava atingindo a maturidade superior, que ele denominara mediumnato; - ele havia atingido esse nível superior de mediunidade – é que vem a correspondência do além-túmulo.     E o correio de além-túmulo, que é muito difícil, muito sutil, exigia dele muitos sacrifícios, porque aqueles que chegavam chorando, aflitos para dar notícias, transmitiam-lhe as sensações da morte: as mortes por acidente; as mortes por suicídio eram choques vibratórios tremendos que o Dr. Bezerra amenizava.

          Um grande número dessas cartas – opinião pessoal – era redigido pelo Dr. Bezerra. O Espírito dizia o que desejava e o Dr. Bezerra relatava.

          Fazendo uma análise, pude observar que um grande número dessas cartas começa com um maneirismo muito comum em Minas Gerais: há 38 janeiros; há 10 janeiros, em vez de há 10 anos, há 30 anos; há tantos janeiros, e era também uma linguagem muito xavierina, que ele costumava utilizar.

          Então, eram mensagens não escritas pela Entidade cujos fluidos eram tão perturbadores que nesses equipamentos eletrônicos da mediunidade sublime de Chico Xavier poderiam causar danos. Nem todo mundo sabe manipular. É um aparelho muito delicado. Então, o Dr. Bezerra fazia-se o missivista, e na hora o Espírito assinava, pegando na mão do médium.

           Como nem sempre as assinaturas eram perfeitamente idênticas, o Chico um dia me falou assim:

          - Pensam que é fácil pegar a mão do médium e escrever. Quem desejar, pegue a mão de uma pessoa analfabeta e assine um cheque para ver se o banco paga.

          É a mesma coisa. O Espírito pega a mão do médium; centraliza no sistema nervoso central, pela glândula pineal, mas os influxos nervosos, por mais que sejam perfeitos, não vão reproduzir exatamente a caligrafia. Ela terá algumas nuanças muito bem estudadas pelo Dr. Perandréa, na obra em que ele analisa a psicografia do Chico.

          Então, a mim me chama atenção a leviandade com que muitos se propõem a psicografar mensagens de seres queridos, fazendo inquérito antes: anotando os nomes. Ficou tão vulgar a questão que me escrevem pedindo mensagens dizendo mais ou menos assim:

          É uma mensagem do meu filho que morreu dia tal; que fazia aniversário dia tal; cujo amigo é fulano, beltrano, sicrano, e no Além já estão sua avó Maria, Antônio. A mensagem já está pronta. É só dizer: Mamãe, estou com saudades, dê lembrança à titia, à vovó e assina. Induzindo. Já induzindo pela ânsia de querer notícia. E também virou modismo.

          Eu vi muitas vezes, em Uberaba – porque eu ia a Uberava duas ou três vezes por ano -, grupos de mães comentando: “Mas eu já recebi 10 mensagens do meu filho”. “Eu já recebi 32”. E o que é que fez das mensagens?

          E então se começou a publicar muitos livros dessas mensagens, que a mim não interessam. Interessam à família. Então, vêm essas mensagens que são muito pessoais, muito consoladoras e que devem ter um caráter muito criterioso. Se se publica para identificar, demonstrar a excelência da mediunidade, muito bem, mas não tem conteúdo doutrinário.

          Porque foram católicos; foram jovens que se deixaram consumir pela droga; foram jovens vitimados por acidentes, imaturos que vêm confirmar a sobrevivência.

          Então o que se dá? Surge agora a “indústria” das cartas do Além. Eu tenho lido algumas, porque me mandam. Eu leio, e elas não acrescentam nada. O que é mais lamentável – Eu li no livro Por trás de véu de Ísis, em que o repórter é biógrafo de Chico Xavier no livro anterior – alguém dizer assim:

          - Mas Chico também interrogava e anotava dados.

          Eu estarreci, porque jamais Chico Xavier perguntou qualquer dado a qualquer pessoa.

          Ele atendia 40 pessoas nas tardes de sexta-feira. Pessoas aflitas que chegavam, e ele ficava com papel, um lápis e uma tábua de apoio.

           Então o sujeito dizia: “Seu Chico, estou sofrendo muito”. Tomava o nome, para orar; anotava para transferir para o livrinho de preces. A pessoa pedia preces por familiares, e ele anotava. Chegavam com problemas de desencarnados. Ele dizia:

          - Sente-se ali e aguarde.

           Vi e ouvi inúmeras vezes. Ele jamais perguntou. E li na internet, o que pé muito pior, e gravei, porque li na internet, gravei e imprimi, que ele mandava alguém nas filas, perguntar às pessoas os dados, e no quartinho, a pessoa vinha trazer os dados para ele copiar.

           Primeiro, era necessário que ele tivesse uma memória prodigiosa, porque nome é muito abstrato. Nós normalmente vinculamos o nome da pessoa por tal ou qual característica. Um dos piores testes de memória é perguntar: “Qual é o meu nome?” Porque se não tiver algo que favoreça a associação de ideias, não lembra, porque o nome é uma designação momentânea, e então, uma acusação dessas, além de covarde, porque ele já desencarnou, é também criminosa, porque isso jamais aconteceu.

           E como eu sei? Porque eu estive muitas vezes vendo-o psicografar por horas a fio. Um dos grandes dramas que foi levado à Magistratura é de um rapaz de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, chamado João de Deus.

          Eu estava sentado à mesa. A reunião mediúnica de psicografia ia adiantada. Ao meu direito estava a dona Maria Edvirges Borges, Presidente da federação Espírita do Mato Grosso do Sul, quando alguém, pela janela, me entregou uma carta que era a mim dirigida. Essa carta dizia para que eu a entregasse a Chico.

            Casualmente eu olhei o remetente e coloquei a carta no bolso. A reunião continuou, e pela madrugada, depois de duas horas, Chico começou a ler as mensagens. E então, entre elas, ele dizia:

          - Tem aqui uma mensagem para João de Deus.

            Chamou pelo microfone, e ninguém veio. Ele disse:


           - Mas é uma mensagem de sua mulher desencarnada, para João de Deus.

          E deu o nome da desencarnada.

          Eu então me lembrei. Eu disse:

             - “Ué!”

          Apanhei a carta. João de Deus. Eu digo:

           - Chico, tem aqui uma carta para você, mandada do Mato Grosso do Sul, de Campo Grande, de uma pessoa chamada João de Deus.

            Publicamente ele disse:

           - Leia a carta.

          Eu abri e li para todo mundo ouvir:

          - Seu Chico, eu estou sendo processado sob suspeita de haver assassinado a minha mulher, mas eu não a assassinei. Era o dia do nosso aniversário de casamento, e tal. Então, eu peço que interceda junto dos Bons Espíritos para mandarem uma carta dela, uma coisa qualquer.

          E assinava: João de Deus.

          Dona Maria Edviges me disse:

          - Vamos ver o que é que ela diz.

          E começou a ler:

          - Ainda me recordo que naquela data do nosso aniversário de casamento, nós estivemos visitando a família de fulana de tal. Fizemos o lanche e depois visitamos beltrano e sicrano. Voltamos para casa e no momento em que você tirava o revólver do coldre e colocava na mesa de cabeceira, ele escorregou; tinha uma bala; o gatilho estava preso; disparou e me alcançou. Ainda me lembro.

          Ela narra e assina. Era a defesa dele.

          Então, Maria Edviges disse:

          - Mas, que interessante. Ele não está aqui, Chico.

          - A senhora leva a carta para ele.

           Maria Edviges tomou a carta, viajou para Campo Grande, entregou-lhe e ele entregou a carta ao seu advogado para provar que tudo o que ele havia dito, conforme estava nos autos, era exatamente o que ela vinha dizer do Além.

           Ele foi absolvido por unanimidade de votos.

           Apenas com esse caso, dá para demonstrar a grandeza da mediunidade.

           Então, é muito perigoso, porque, por outro lado, as pessoas também dão dados falsos, e eu vi, em Vitória da Conquista, numa Semana Espírita, uma médica que estava dilacerada pela morte do filho num acidente. Estando lá um desses médiuns de cartas do Além, ela deu todos os dados errados, para testar. E a mensagem veio com todos os dados errados. Ela ameaçou fazer um escândalo durante a Semana Espírita, mostrando que tudo era farsa.


           Eu cheguei, no dia seguinte, e então fomos apresentados, conversamos com ela, tentamos asserená-la. O Espiritismo não poderia responder pela leviandade de um indivíduo.

           Então, se por acaso o médium recebe – e todos os médiuns recebem, porque a mediunidade é neutra. Tanto vem um missivista do Além como um literato do Além. Não tem diferença. A questão é a capacidade do médium captar os dados muito abstratos: datas, nomes, acontecimentos, como nas mensagens que o Chico recebe, e muitas.

          Em muitos outros casos, os dados são impressionantes: a data do aniversário, as circunstâncias da morte.

          Então, quando a mim também perguntam:

          - Qual é o Centro a que eu devo recorrer para receber mensagem do meu marido, do meu filho?

            Eu digo que primeiro é necessário saber se eles têm condição de comunicar-se. E depois, ficar no Centro Espírita, porque, no momento azado, a Divindidade permitirá que o médium capte, senão pela psicografia, pela psicofonia, pela intuição, e receberá a informação desejada.

           Um detalhe ainda, que eu rogo permissão, e peço desculpas antecipadamente: Anunciar que o médium vai psicografar mensagens. Como é que ele sabe? Então, ele pode agora anunciar que vai receber mensagem? E se o Espírito não vier?

            Chico Xavier, quando alguém lhe perguntava:

           - Chico, você poderia receber uma mensagem?

            - Ah, Meu filho! O telefone toca de lá para cá.

            Ele nunca anunciou que ia receber. No programa Pinga Fogo, quando lhe pediram para psicografar, ele disse:



           - Vamos ver se o fenômeno acontece.
         Porque o médium é um instrumento. Ele não pode dizer que o fenômeno vai acontecer. Então, tenho lido na nossa imprensa: “A cidade tal vai receber o médium Antônio da Silva, ou Antônio da Silva Margarido, que vai psicografar cartas do Além. As pessoas podem inscrever-se.”


          


          Então, barateou muito o significado do Espiritismo. A pessoa recebe aquela carta. Aquela carta consola, é claro, mas dentro de algum tempo quer outra, como é inevitável, e o médium vai se transformar num correio particularista, a desserviço das atividades do Centro Espírita, que têm muitas atividades para serem exercidas pelo médium, não só na mediunidade, mas também para dar sopa aos pobres. Varrer a sala; arrumar as cadeiras. Essas tarefas não devem ser remuneradas, e os Centros Espíritas são constrangidos a remunerar pessoas. Chegamos e encontramos tudo arrumadinho, porque alguém arrumou. Encontramos o setor de higiene limpo; sanitários em ordem, achamos uma maravilha, mas alguém o fez. Quando é que nós vamos fazer? Quando é que o bom médium vai chegar, vai arrumar, vai preparar o ambiente, vai criar o clima para as atividades de passe? A tarefa do médium não é só receber Espíritos. É viver os postulados da Doutrina Espírita.

CONVERSANDO com Divaldo Franco – III. Curitiba (PR), FEP, 2011. p 75-84.

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