segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PODER

          As heranças do primarismo da evolução remanescem na criatura humana induzindo-a à posse como mecanismo de segurança e de autorrealização, fenômeno decorrente também das exigências do ego que lhe predomina como força de difícil controle.

          Consequentemente, a estrutura da sociedade se organiza tendo como apoio a proposta do poder, que tudo parece resolver, projetando o indivíduo à felicidade e o grupo ao triunfo.

         O poder, dessa forma, se torna o objetivo quase essencial que deve ser conquistado por muitos, porquanto ele favorece o ter, que seria indispensável para uma existência confortável, assinalada pela comodidade e pelo prazer.

         Esse poder se expressa de mil formas diferentes arrastando as multidões que se lhe submetem, e atirando-as ao campo de batalha das competições destrutivas, nas quais os indivíduos se transformam em adversários, quando deveriam se unir em favor do progresso auxiliando-se reciprocamente.

         O impulso do poder só torna, às vezes, tão irresistível que, mesmo no hercúleo esforço da transformação moral da pessoa para melhor, reponta em forma de exibicionismo quando a sua ainda não é uma humildade verdadeira, ou de pressão sobre os outros, em conflito de transferência doentia do que gostaria de fazer e não se encoraja a realizá-lo, o que não ocorre por virtude, mas sim, por frustração.

         Nas experiências primeiras, o espécime mais forte sempre venceu o menos equipado, o que permitiu ao homem mais tarde usar a astúcia e a inteligência para dominar os animais de grande porte, assim como controlar as forças do planeta que lhe ameaçavam a existência.

        Ao alcançar o patamar da razão lúcida, permaneceu-lhe o conceito de sobrepor-se aos demais como forma de autorrealização, mesmo que inconscientemente, o que o tem conduzido a tutas tão desgastantes que desnecessárias.

       O poder funciona como instrumento de intimidação, de projeção, de vaidade, despertando inveja nos fracos e interesses apaixonados nos inseguros.

         Não são poucos aqueles que tudo empenham para a conquista do poder, a fim de receberem a bajulação doentia dos que se locupletam com os sobejos das suas extravagâncias. E o fazem, perdendo os melhores momentos da existência, no afã de se tornarem temidos, face à certeza de que têm de não conseguirem ser amados.

        Mas o poder defrauda todos aqueles que nele confiam.

        O poder da juventude cede lugar ao da maturidade, e essa à velhice com os seus desajustes e demências.

       O poder do dinheiro não compra tudo quanto se faz necessário para a plenitude, embora auxilie a avidez, diminuindo algumas dores e desconfortos, que podem ressurgir em forma de angústias morais e frustrações profundas por falta de amor verdadeiro.

       O poder público e o religioso se transferem de mãos a cada momento, quando outros mais ousados derrubam os sistemas ou alteram as Constituições que lhes ofereciam base.

       O poder da cultura, decorrente da inteligência brilhante e da memória privilegiada, decresce e desaparece com o envelhecimento, as enfermidades degenerativas, os golpes inesperados que produzem traumas crânio-encefálicos...

      Qualquer tipo de poder terrreno, a morte, por mais demorada de chegar, termina por diluir.

       Fama e poder – eis os dois pilotis feitos de fantasia em razão da precariedade da sua duração!

      Somente o poder do amor se transfere para além do túmulo, acompanhando o ser na sua escalada ascensional no rumo da Vida.

       Quando Jesus se encontrava diante de Pilatos, esse Lhe disse que representava o poder, ao que o Mestre, imperturbável, lhe respondeu que ele o tinha porque lhe houvera sido concedido, mas que não era dele próprio.

         A sua força transitória entregou-O aos inimigos, que puderam sacrificá-lO porque estava nos desígnios de Deus, mas não impediu que Ele retornasse vivo e exuberante, dando prosseguimento ao ministério que viera realizar na Terra.

      Posteriormente, o poder de Pilatos passou, como o de todo o Império romano, desaparecendo a falsa glória e a opulência ilusória, enquanto Ele permaneceu real, vibrando nas mentes e nos corações que O amam e anelam por encontrá-lO.

 O poder real é aquele que decorre dos valores intelectomorais adquiridos a esforço e perseverança, que facultam o crescimento interior projetando o Espírito para Deus.

        Esse poder, porém, quando se instala na mente e no coração, ao invés de perturbar, libera as paixões, dulcifica e harmoniza, tornando aquele que o possui um centro de irradiação de amor e paz que a todos mimetiza.

       Esforçar-se por conquistar esse poder iluminativo, deve ser a meta do indivíduo inteligente enquanto jornadeia na Terra, o que não o impede de adquirir outros poderes, a fim de que bem os possa utilizar, servindo a si e à Humanidade.

      Joanna de Ângelis, Luzes do Alvorecer. Salvador, Leal, 2001. p. 115-8.

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