PODER
As
heranças do primarismo da evolução remanescem na criatura humana
induzindo-a à posse como mecanismo de segurança e de
autorrealização, fenômeno decorrente também das exigências do
ego que lhe predomina como força de difícil controle.
Consequentemente,
a estrutura da sociedade se organiza tendo como apoio a proposta do
poder, que tudo parece resolver, projetando o indivíduo à
felicidade e o grupo ao triunfo.
O
poder, dessa forma, se torna o objetivo quase essencial que deve ser
conquistado por muitos, porquanto ele favorece o ter, que seria
indispensável para uma existência confortável, assinalada pela
comodidade e pelo prazer.
Esse
poder se expressa de mil formas diferentes arrastando as multidões
que se lhe submetem, e atirando-as ao campo de batalha das
competições destrutivas, nas quais os indivíduos se transformam em
adversários, quando deveriam se unir em favor do progresso
auxiliando-se reciprocamente.
O
impulso do poder só torna, às vezes, tão irresistível que, mesmo
no hercúleo esforço da transformação moral da pessoa para melhor,
reponta em forma de exibicionismo quando a sua ainda não é uma
humildade verdadeira, ou de pressão sobre os outros, em conflito de
transferência doentia do que gostaria de fazer e não se encoraja a
realizá-lo, o que não ocorre por virtude, mas sim, por frustração.
Nas
experiências primeiras, o espécime mais forte sempre venceu o menos
equipado, o que permitiu ao homem mais tarde usar a astúcia e a
inteligência para dominar os animais de grande porte, assim como
controlar as forças do planeta que lhe ameaçavam a existência.
Ao
alcançar o patamar da razão lúcida, permaneceu-lhe o conceito de
sobrepor-se aos demais como forma de autorrealização, mesmo que
inconscientemente, o que o tem conduzido a tutas tão desgastantes
que desnecessárias.
O
poder funciona como instrumento de intimidação, de projeção, de
vaidade, despertando inveja nos fracos e interesses apaixonados nos
inseguros.
Não
são poucos aqueles que tudo empenham para a conquista do poder, a
fim de receberem a bajulação doentia dos que se locupletam com os
sobejos das suas extravagâncias. E o fazem, perdendo os melhores
momentos da existência, no afã de se tornarem temidos, face à
certeza de que têm de não conseguirem ser amados.
Mas
o poder defrauda todos aqueles que nele confiam.
O
poder da juventude cede lugar ao da maturidade, e essa à velhice com
os seus desajustes e demências.
O
poder do dinheiro não compra tudo quanto se faz necessário para a
plenitude, embora auxilie a avidez, diminuindo algumas dores e
desconfortos, que podem ressurgir em forma de angústias morais e
frustrações profundas por falta de amor verdadeiro.
O
poder público e o religioso se transferem de mãos a cada momento,
quando outros mais ousados derrubam os sistemas ou alteram as
Constituições que lhes ofereciam base.
O
poder da cultura, decorrente da inteligência brilhante e da memória
privilegiada, decresce e desaparece com o envelhecimento, as
enfermidades degenerativas, os golpes inesperados que produzem
traumas crânio-encefálicos...
Qualquer
tipo de poder terrreno, a morte, por mais demorada de chegar, termina
por diluir.
Fama
e poder – eis os dois pilotis feitos de fantasia em razão da
precariedade da sua duração!
Somente
o poder do amor se transfere para além do túmulo, acompanhando o
ser na sua escalada ascensional no rumo da Vida.
Quando
Jesus se encontrava diante de Pilatos, esse Lhe disse que
representava o poder, ao que o Mestre, imperturbável, lhe respondeu
que ele o tinha porque lhe houvera sido concedido,
mas que não era dele próprio.
A
sua força transitória entregou-O aos inimigos, que puderam
sacrificá-lO porque estava nos desígnios de Deus, mas não impediu
que Ele retornasse vivo e exuberante, dando prosseguimento ao
ministério que viera realizar na Terra.
Posteriormente,
o poder de Pilatos passou, como o de todo o Império romano,
desaparecendo a falsa glória e a opulência ilusória, enquanto Ele
permaneceu real, vibrando nas mentes e nos corações que O amam e
anelam por encontrá-lO.
O
poder real é aquele que decorre dos valores intelectomorais
adquiridos a esforço e perseverança, que facultam o crescimento
interior projetando o Espírito para Deus.
Esse
poder, porém, quando se instala na mente e no coração, ao invés
de perturbar, libera as paixões, dulcifica e harmoniza, tornando
aquele que o possui um centro de irradiação de amor e paz que a
todos mimetiza.
Esforçar-se
por conquistar esse poder iluminativo, deve ser a meta do indivíduo
inteligente enquanto jornadeia na Terra, o que não o impede de
adquirir outros poderes, a fim de que bem os possa utilizar, servindo
a si e à Humanidade.
Joanna
de Ângelis, Luzes do Alvorecer. Salvador, Leal, 2001. p. 115-8.
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