O
QUE DIZER DOS TRABALHOS
DE PSICOGRAFIA, ATUALMENTE?
PERGUNTA:
Em
razão do destaque que a mídia tem dado ao Espiritismo: filmes como
Chico Xavier, Nosso Lar, Cartas de Chico Xavier, têm havido, na
nossa Federação, quem sabe como nas demais, muitos e-mails pedindo
onde se pode localizar um Centro onde se consiga uma psicografia.
Infelizmente há Centros Espíritas que estão criando trabalhos
nesse sentido, para atender ao público que vai lá e precisa de uma
psicografia. Gostaria da sua opinião sobre isto.
DIVALDO:
Contou-nos
Chico, pessoalmente, que durante muito tempo ele exerceu a
mediunidade com Jesus através das mensagens, quando então Emmanuel
começou o período do romance, aprimorando-lhe a capacidade de
registro do Mundo Espiritual, porque os romances de Chico Xavier são
tão notáveis que fi escrito um livro por um historiador,
confirmando geograficamente todas as situações; sociologicamente,
os hábitos da época. Mereceu de um grande estudioso fazer uma
análise dos dados fornecidos por Emmanuel.
Portanto,
a mediunidade de romance é um grande desafio, porquanto os dados são
transmitidos diretamente pela faculdade sonambúlica, evitando
qualquer interferência dos registros do inconsciente pessoal do
médium. Então, foi uma fase que ele exerceu muito bem. Quando
Emmanuel prometeu aos amigos em Pedro Leopoldo falar a seu respeito
em uma encarnação anterior, e vem Há 2000 anos.
Depois
dessa fase, ele vai para a revelação do Mundo Espiritual, e André
Luiz apresenta-se como o grande revelador desse mundo transcendente
de onde viemos, do qual nos esquecemos e para onde retornamos. Foi
uma fase de grandes provas, porque as Entidades perversas que se
homiziam na denominada erraticidade inferior, compraziam-se em
ocultar isso das criaturas humanas, para rurpreendê-las, levá-las
para os seus resgates dolorosos e exercerem a vingança em razão de
seus débitos ancestrais.
Mas ele suportou aquele período de
difamações. Foi o período difícil, com a família de Humberto de
Campos; foram os testemunhos na família pessoal; as grandes dores
morais, como ele vai um dia falar sobre privilégios. Quando alguém
disse que ele era um homem privilegiado, ele começa a relatar se é
um privilégio perder a mãe aos 4 anos de idade, e vai relatando
todo o calvário que ele suporta sorrindo, sem desanimar.
Vem a fase André Luiz. André Luiz
culmina com as obras científicas, através dele e do Waldo Vieira,
na chamada correspondência cruzada: um numa cidade, o outro em outra
cidade; um recebe o capítulo par, o outro o capítulo ímpar,
provando a legitimidade do fenômeno mediúnico. Quando termina essa
fase, aí começa o correio do além.
Somente
quando ele estava atingindo a maturidade superior, que ele denominara
mediumnato; - ele
havia atingido esse nível superior de mediunidade – é que vem a
correspondência do além-túmulo. E o correio de além-túmulo, que
é muito difícil, muito sutil, exigia dele muitos sacrifícios,
porque aqueles que chegavam chorando, aflitos para dar notícias,
transmitiam-lhe as sensações da morte: as mortes por acidente; as
mortes por suicídio eram choques vibratórios tremendos que o Dr.
Bezerra amenizava.
Um grande número dessas cartas –
opinião pessoal – era redigido pelo Dr. Bezerra. O Espírito dizia
o que desejava e o Dr. Bezerra relatava.
Fazendo uma análise, pude observar
que um grande número dessas cartas começa com um maneirismo muito
comum em Minas Gerais: há 38 janeiros; há 10 janeiros, em vez de há
10 anos, há 30 anos; há tantos janeiros, e era também uma
linguagem muito xavierina, que ele costumava utilizar.
Então, eram mensagens não
escritas pela Entidade cujos fluidos eram tão perturbadores que
nesses equipamentos eletrônicos da mediunidade sublime de Chico
Xavier poderiam causar danos. Nem todo mundo sabe manipular. É um
aparelho muito delicado. Então, o Dr. Bezerra fazia-se o missivista,
e na hora o Espírito assinava, pegando na mão do médium.
Como nem sempre as assinaturas eram
perfeitamente idênticas, o Chico um dia me falou assim:
- Pensam que é fácil pegar a mão
do médium e escrever. Quem desejar, pegue a mão de uma pessoa
analfabeta e assine um cheque para ver se o banco paga.
É a mesma coisa. O Espírito pega
a mão do médium; centraliza no sistema nervoso central, pela
glândula pineal, mas os influxos nervosos, por mais que sejam
perfeitos, não vão reproduzir exatamente a caligrafia. Ela terá
algumas nuanças muito bem estudadas pelo Dr. Perandréa, na obra em
que ele analisa a psicografia do Chico.
Então, a mim me chama atenção a
leviandade com que muitos se propõem a psicografar mensagens de
seres queridos, fazendo inquérito antes: anotando os nomes. Ficou
tão vulgar a questão que me escrevem pedindo mensagens dizendo mais
ou menos assim:
É uma mensagem do meu filho que
morreu dia tal; que fazia aniversário dia tal; cujo amigo é fulano,
beltrano, sicrano, e no Além já estão sua avó Maria, Antônio. A
mensagem já está pronta. É só dizer: Mamãe, estou com saudades,
dê lembrança à titia, à vovó e assina. Induzindo. Já induzindo
pela ânsia de querer notícia. E também virou modismo.
Eu vi muitas vezes, em Uberaba –
porque eu ia a Uberava duas ou três vezes por ano -, grupos de mães
comentando: “Mas eu já recebi 10 mensagens do meu filho”. “Eu
já recebi 32”. E o que é que fez das mensagens?
E então se começou a publicar
muitos livros dessas mensagens, que a mim não interessam. Interessam
à família. Então, vêm essas mensagens que são muito pessoais,
muito consoladoras e que devem ter um caráter muito criterioso. Se
se publica para identificar, demonstrar a excelência da mediunidade,
muito bem, mas não tem conteúdo doutrinário.
Porque foram católicos; foram
jovens que se deixaram consumir pela droga; foram jovens vitimados
por acidentes, imaturos que vêm confirmar a sobrevivência.
Então o que se dá? Surge agora a
“indústria” das cartas do Além. Eu tenho lido algumas, porque
me mandam. Eu leio, e elas não acrescentam nada. O que é mais
lamentável – Eu li no livro Por trás de véu de Ísis, em
que o repórter é biógrafo de Chico Xavier no livro anterior –
alguém dizer assim:
- Mas Chico também interrogava e
anotava dados.
Eu estarreci, porque jamais Chico
Xavier perguntou qualquer dado a qualquer pessoa.
Ele atendia 40 pessoas nas tardes
de sexta-feira. Pessoas aflitas que chegavam, e ele ficava com papel,
um lápis e uma tábua de apoio.
Então o sujeito dizia: “Seu
Chico, estou sofrendo muito”. Tomava o nome, para orar; anotava
para transferir para o livrinho de preces. A pessoa pedia preces por
familiares, e ele anotava. Chegavam com problemas de desencarnados.
Ele dizia:
- Sente-se ali e aguarde.
Vi e ouvi inúmeras vezes. Ele
jamais perguntou. E li na internet, o que pé muito pior, e
gravei, porque li na internet, gravei e imprimi, que ele
mandava alguém nas filas, perguntar às pessoas os dados, e no
quartinho, a pessoa vinha trazer os dados para ele copiar.
Primeiro, era necessário que ele
tivesse uma memória prodigiosa, porque nome é muito abstrato. Nós
normalmente vinculamos o nome da pessoa por tal ou qual
característica. Um dos piores testes de memória é perguntar: “Qual
é o meu nome?” Porque se não tiver algo que favoreça a
associação de ideias, não lembra, porque o nome é uma designação
momentânea, e então, uma acusação dessas, além de covarde,
porque ele já desencarnou, é também criminosa, porque isso jamais
aconteceu.
E como eu sei? Porque eu estive
muitas vezes vendo-o psicografar por horas a fio. Um dos grandes
dramas que foi levado à Magistratura é de um rapaz de Campo Grande,
Mato Grosso do Sul, chamado João de Deus.
Eu estava sentado à mesa. A
reunião mediúnica de psicografia ia adiantada. Ao meu direito
estava a dona Maria Edvirges Borges, Presidente da federação
Espírita do Mato Grosso do Sul, quando alguém, pela janela, me
entregou uma carta que era a mim dirigida. Essa carta dizia para que
eu a entregasse a Chico.
Casualmente eu olhei o remetente e
coloquei a carta no bolso. A reunião continuou, e pela madrugada,
depois de duas horas, Chico começou a ler as mensagens. E então,
entre elas, ele dizia:
- Tem aqui uma mensagem para João
de Deus.
Chamou pelo microfone, e ninguém
veio. Ele disse:
- Mas é uma mensagem de sua mulher
desencarnada, para João de Deus.
E deu o nome da desencarnada.
Eu então me lembrei. Eu disse:
- “
Ué!”
Apanhei a carta. João de Deus. Eu
digo:
- Chico, tem aqui uma carta para
você, mandada do Mato Grosso do Sul, de Campo Grande, de uma pessoa
chamada João de Deus.
Publicamente
ele disse:
-
Leia a carta.
Eu
abri e li para todo mundo ouvir:
-
Seu Chico, eu estou sendo processado sob suspeita de haver
assassinado a minha mulher, mas eu não a assassinei. Era o dia do
nosso aniversário de casamento, e tal. Então, eu peço que
interceda junto dos Bons Espíritos para mandarem uma carta dela, uma
coisa qualquer.
E
assinava: João de Deus.
Dona
Maria Edviges me disse:
-
Vamos ver o que é que ela diz.
E
começou a ler:
-
Ainda me recordo que naquela data do nosso aniversário de casamento,
nós estivemos visitando a família de fulana de tal. Fizemos o
lanche e depois visitamos beltrano e sicrano. Voltamos para casa e no
momento em que você tirava o revólver do coldre e colocava na mesa
de cabeceira, ele escorregou; tinha uma bala; o gatilho estava preso;
disparou e me alcançou. Ainda me lembro.
Ela
narra e assina. Era a defesa dele.
Então,
Maria Edviges disse:
-
Mas, que interessante. Ele não está aqui, Chico.
-
A senhora leva a carta para ele.
Maria
Edviges tomou a carta, viajou para Campo Grande, entregou-lhe e ele
entregou a carta ao seu advogado para provar que tudo o que ele havia
dito, conforme estava nos autos, era exatamente o que ela vinha dizer
do Além.
Ele
foi absolvido por unanimidade de votos.
Apenas
com esse caso, dá para demonstrar a grandeza da mediunidade.
Então,
é muito perigoso, porque, por outro lado, as pessoas também dão
dados falsos, e eu vi, em Vitória da Conquista, numa Semana
Espírita, uma médica que estava dilacerada pela morte do filho num
acidente. Estando lá um desses médiuns de cartas do Além, ela deu
todos os dados errados, para testar. E a mensagem veio com todos os
dados errados. Ela ameaçou fazer um escândalo durante a Semana
Espírita, mostrando que tudo era farsa.
Eu
cheguei, no dia seguinte, e então fomos apresentados, conversamos
com ela, tentamos asserená-la. O Espiritismo não poderia responder
pela leviandade de um indivíduo.
Então,
se por acaso o médium recebe – e todos os médiuns recebem, porque
a mediunidade é neutra. Tanto vem um missivista do Além como um
literato do Além. Não tem diferença. A questão é a capacidade do
médium captar os dados muito abstratos: datas, nomes,
acontecimentos, como nas mensagens que o Chico recebe, e muitas.
Em
muitos outros casos, os dados são impressionantes: a data do
aniversário, as circunstâncias da morte.
Então,
quando a mim também perguntam:
-
Qual é o Centro a que eu devo recorrer para receber mensagem do meu
marido, do meu filho?
Eu
digo que primeiro é necessário saber se eles têm condição de
comunicar-se. E depois, ficar no Centro Espírita, porque, no momento
azado, a Divindidade permitirá que o médium capte, senão pela
psicografia, pela psicofonia, pela intuição, e receberá a
informação desejada.
Um
detalhe ainda, que eu rogo permissão, e peço desculpas
antecipadamente: Anunciar que o médium vai psicografar mensagens.
Como é que ele sabe? Então, ele pode agora anunciar que vai receber
mensagem? E se o Espírito não vier?
Chico
Xavier, quando alguém lhe perguntava:
-
Chico, você poderia receber uma mensagem?
-
Ah, Meu filho! O telefone toca de lá para cá.
Ele
nunca anunciou que ia receber. No programa Pinga Fogo, quando lhe
pediram para psicografar, ele disse:
- Vamos
ver se o fenômeno acontece.
Porque
o médium é um instrumento. Ele não pode dizer que o fenômeno vai
acontecer. Então, tenho lido na nossa imprensa: “A cidade tal vai
receber o médium Antônio da Silva, ou Antônio da Silva Margarido,
que vai psicografar cartas do Além. As pessoas podem inscrever-se.”
Então,
barateou muito o significado do Espiritismo. A pessoa recebe aquela
carta. Aquela carta consola, é claro, mas dentro de algum tempo quer
outra, como é inevitável, e o médium vai se transformar num
correio particularista, a desserviço das atividades do Centro
Espírita, que têm muitas atividades para serem exercidas pelo
médium, não só na mediunidade, mas também para dar sopa aos
pobres. Varrer a sala; arrumar as cadeiras. Essas tarefas não devem
ser remuneradas, e os Centros Espíritas são constrangidos a
remunerar pessoas. Chegamos e encontramos tudo arrumadinho, porque
alguém arrumou. Encontramos o setor de higiene limpo; sanitários em
ordem, achamos uma maravilha, mas alguém o fez. Quando é que nós
vamos fazer? Quando é que o bom médium vai chegar, vai arrumar, vai
preparar o ambiente, vai criar o clima para as atividades de passe? A
tarefa do médium não é só receber Espíritos. É viver os
postulados da Doutrina Espírita.
CONVERSANDO
com Divaldo Franco – III. Curitiba (PR), FEP, 2011. p 75-84.